Farense capa

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sexta-feira, 14 de março de 2014

Lemajic



“Torço desde o Montenegro por um Farense na I Liga”

Quantos Farenses somos? - Olá, Lemajic. Por onde anda actualmente?

Lemajic – Estou no meu país, Montenegro. Estou ligado à Federação de futebol daqui. Curiosamente estive há 15 dias em Portugal.

QFS – E foi a Faro?

L – Não, infelizmente não tive tempo. Estive em Lisboa e não consegui descer mais. A ver se ainda este ano consigo voltar e ir a Faro.

QFS – Continua a acompanhar o Farense?

L – Sim, continuo sempre a acompanhar. Vou vendo os resultados e quando aparece algum vídeo na net, vejo sempre. Sei que está em 11º na II Liga, não joga como dantes ainda, mas pouco a pouco está a recuperar essa ideologia de antigamente.

QFS – Soube da grave crise por que o clube passou há uns anos?

L – Sim, acompanhei sempre via Facebook, falava muito com o Presidente Boronha. Quando eu lá joguei, o clube estava bem, nunca pensei que pudesse cair nessa crise. Pelo que soube, teve a ver com uma empresa espanhola que comprou o clube e depois foi à falência, mas sobre isso não posso falar, porque não sei de facto o que aconteceu.

QFS – E acredita que é possível um regresso à principal divisão do futebol português?

L – Claro que sim. Este ano já está difícil, mas espero que para o ano aconteça. Estou aqui a torcer por isso.


“Na Jugoslávia já tinha jogado finais, mas apoio como os adeptos do Farense não há”

QFS – É ainda hoje recordado pelos adeptos como um dos melhores guarda-redes que passou pelo clube. Sabe disso?

L – Muito obrigado. É um orgulho saber isso e ter feito parte de alguns dos melhores momentos da história do clube.



QFS – A sua primeira época (89/90), de resto, foi inesquecível...

L – Subimos e no mesmo ano fomos à final e à finalíssima da Taça. Foi uma entrada realmente inesquecível, uma temporada maravilhosa. Quando ganhámos ao Belenenses, nas meias-finais, e nos apurámos para a final, foi uma loucura, a cidade toda ficou em festa até à final e depois à finalíssima. Na Jugoslávia já tinha jogado finais, mas adeptos como os do Farense, em termos de euforia pela equipa, não há. Eram os melhores do país.

QFS – Foi uma desilusão a derrota na finalíssima?

L – Ninguém ficou feliz por perder, é óbvio, mas só o facto de chegarmos à final já foi muito bom. O Estrela da Amadora na altura tinha jogadores de prestígio, e também tivemos azar, falhámos alguns golos. Mas chegar lá foi um feito completamente inesperado, ninguém pensava que podia acontecer, éramos uma equipa da II Liga! A união daquele grupo fez toda a diferença. O Paco Fortes criou um clima de respeito entre todos, de família. Nunca houve problemas naquele grupo.

QFS – Foi difícil sair pela primeira vez do seu país, na altura ainda a enorme Jugoslávia, e ir jogar para a II Divisão?

L – Não foi fácil, sobretudo porque não falava português e fui contratado para jogar desde logo. Mas foi maravilhoso.



QFS – Foi titular absoluto da baliza do Farense durante três épocas...

L – E penso que merecei. Trabalhava muito para isso.

QFS – Foram os melhores anos da sua carreira?

L – Sim, posso dizer que sim. Gostei imenso de estar em Faro e no Farense. Viver três anos com aquela intensidade, chegar à final da Taça, subir de divisão logo no primeiro ano num clube com a dimensão do Farense, foi como ganhar o campeonato.

QFS – Mantém o contacto com colegas desse tempo?

L – Sempre. Tenho muitos amigos em Faro, com quem tenho contactos diários. Vou matando assim as saudades!



“A presença na final da Taça foi um prémio de Carlos Queiroz”

QFS – Ainda perdeu mais duas Taças, mas acabou por ganhar uma no Sporting. Estava difícil...

L – Mas ganhei uma Supertaça no Boavista logo no primeiro ano, ao Porto. Nesse ano ganhámos três vezes ao Porto. Foi fantástico ganhar um troféu ao campeão e nas Antas. Mostrámos toda a nossa capacidade, tínhamos uma equipa fabulosa.

QFS – Nesse ano viria a perder a final da Taça para o Benfica por 5-2.

L – Entrámos muito corajosos, mas o Benfica ganhou bem. O Futre tinha voltado há pouco tempo e fez um grande jogo. Mas foi uma excelente partida, com um público extraordinário, com golos, um penálti defendido...

QFS – É verdade, o Lemajic defendeu o penálti do William...

L – Como defendi contra o Porto e contra o Sporting. Defendi contra os três grandes (risos)!



QFS – E como se deu a chegada ao Sporting já com 32 anos?

L – Na verdade, a minha passagem pelo Boavista foi uma ponte para o Sporting. É que o presidente Valentim Loureiro era do Sporting e a maneira que arranjou para me impedir de ir para o Benfica, que me queria nesse ano, foi contratar-me e prometer-me ao Sporting no ano seguinte. E assim foi. Mas a questão da idade não se coloca quando uma pessoa trabalha bem e é profissional. Tanto assim é que, quando saí do Sporting, ainda joguei um ano no Marítimo e depois mais dois na Escócia (Dumferline).

QFS – No Sporting travou um interessante duelo com Costinha, que curiosamente já tinha jogado consigo no Boavista...

L – Nunca o vi como um rival. Era um jogador jovem, de grande futuro, e apoiei-o sempre a crescer. Era uma óptima pessoa e um excelente guarda-redes.

QFS – E esteve na célebre noite dos 3-6 em Alvalade, contra o Benfica...

L – É uma noite que fica para a história. O João Pinto nunca mais na vida marcava três golos ao Sporting, só naquela noite! Se calhar entrámos com algum excesso de confiança: estávamos em primeiro e pensámos que ninguém nos podia vencer...



QFS – Na final da Taça 94/95, que o Sporting ganha ao Marítimo (2-0), entrou aos 87 minutos. Foi um prémio do treinador Carlos Queiroz?

L – Eu comecei a época a titular, mas depois lesionei-me. O Costinha agarrou o lugar e nunca mais saiu. O Carlos Queiroz é um grande treinador, que cresceu muito com a passagem pelo Sporting. Respeita muito os jogadores e deu-me esse prémio porque achou que eu merecia participar nem que fosse um minuto nessa conquista.

QFS – Nesse ano, até defrontou por duas vezes o Real Madrid, na Taça UEFA!

L – Sim, e podíamos ter passado a eliminatória. Depois de perdermos 1-0 em Madrid, em casa jogámos bem, ganhámos bem, mas a bola não entrou mais [o Sporting ganhou 2-1]. Falhámos muitos golos e depois o [Michael] Laudrup marcou o único golo de cabeça na vida! Tivemos azar. Depois o Real perdeu em casa [com o modesto Odense, da Dinamarca]. Perdemos uma boa oportunidade de chegar longe. E merecíamos o título de campeão nacional. Só faltou isso, ficou essa amargura.

QFS – Curiosamente, no ano em que vence a Taça, o Farense apura-se para a Taça UEFA! Surpreendeu-o?

L – Sinceramente, não. Era uma surpresa se soubesse que ali não se trabalhava bem, mas não era o caso. O clube estava bem, jogava bem e não me surpreendeu.



QFS – E como surgiu o interesse do Marítimo?

L – O Sporting prometeu-me que ia renovar comigo por dois anos, depois mudaram de opinião. Como queriam o Paulo Alves, iam meter-me no pacote dessa transferência e enviar-me para o Marítimo. Brincaram comigo, perdi a confiança neles e por isso rescindi. Já como jogador livre, recebi uma proposta... do Marítimo. Aceitei e passei lá um ano agradável, a equipa jogava bem, o clube era bem organizado e a Madeira muito bonita.

QFS – Chegou a ir à seleção da Jugoslávia?

L – Fui uma vez.

QFS – E gostava de ter representado o Montenegro??

L – Sim, se na altura fosse possível, gostava muito de ter jogado pelo Montenegro.

"Ró-Ró tem muito futuro"
QFS - Quem foram os melhores jogadores com quem jogou?

L – No Farense, Ricardo, Mané e Pitico. No Boavista, Sánchez, Alfredo e o capitão Casaca. No Sporting, Figo, Peixe, Iordanov, Vujacic... E no Marítimo o capitão Carlos Jorge.

QFS – E treinadores?

L – O Paco Fortes, o Manuel José, o Carlos Queiroz. Que não me treinaram, mas que eram muito bons e por quem tinha muito respeito, havia o Toni, o Eriksson, o próprio Jorge Jesus.

QFS – Nos últimos anos foi treinador de guarda-redes da seleção do Montenegro e também passou pelo Al Ahli, do Qatar...

L – Sim, estive muitos anos na seleção e depois surgiu a possibilidade de ir para esse clube, onde acabou a carreira o Guardiola. O Qatar é um país muito rico, mas ainda amador no futebol. Pode ser que cresça com o Mundial lá em 2022. Mas vai ter de se jogar no inverno; no verão é impossível, as temperaturas rondam os 48 graus. É impensável jogar futebol nessas condições. Só para malucos! O campeonato lá pára nessa altura, não anda ninguém nas ruas, fica tudo fechado em casa com ares condicionados.

QFS – Aí encontrou o Ró-Ró, que completou a formação no Farense e ainda jogou na primeira equipa. Sabia disso?

L – Sim, sei tudo sobre ele. Chegou a meio da época [2010/11] e gostou do clube e do país. Além disso, é muito bom jogador, trabalha muito e é um jogador de grande futuro, merece uma oportunidade num clube maior. Encontrei mais gente que conhecia de Portugal, como o Paulo Autuori e outros que foram trabalhar para a Academia. É um país que aposta forte porque quer evoluir no futebol, embora agora esteja a dar os lugares mais importantes aos espanhóis, por serem os campeões da Europa e do mundo.

QFS – Deixe uma mensagem para os adeptos do Farense.

L – Desejo de todo o coração que consigam regressar à I Divisão. Mesmo nesta parte do mundo, continuo sempre a acompanhar e a torcer pela subida.



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