“Torço desde o Montenegro por um
Farense na I Liga”
Quantos Farenses somos? - Olá,
Lemajic. Por onde anda actualmente?
Lemajic – Estou no meu país,
Montenegro. Estou ligado à Federação de futebol daqui.
Curiosamente estive há 15 dias em Portugal.
QFS – E foi a Faro?
L – Não, infelizmente não
tive tempo. Estive em Lisboa e não consegui descer mais. A ver se
ainda este ano consigo voltar e ir a Faro.
QFS – Continua a acompanhar o
Farense?
L – Sim, continuo sempre a
acompanhar. Vou vendo os resultados e quando aparece algum vídeo na
net, vejo sempre. Sei que está em 11º na II Liga, não joga como
dantes ainda, mas pouco a pouco está a recuperar essa ideologia de
antigamente.
QFS – Soube da grave crise por que
o clube passou há uns anos?
L – Sim, acompanhei sempre via
Facebook, falava muito com o Presidente Boronha. Quando eu lá
joguei, o clube estava bem, nunca pensei que pudesse cair nessa
crise. Pelo que soube, teve a ver com uma empresa espanhola que
comprou o clube e depois foi à falência, mas sobre isso não posso
falar, porque não sei de facto o que aconteceu.
QFS – E acredita que é possível
um regresso à principal divisão do futebol português?
L – Claro que sim. Este ano já
está difícil, mas espero que para o ano aconteça. Estou aqui a
torcer por isso.
“Na Jugoslávia já tinha jogado
finais, mas apoio como os adeptos do Farense não há”
QFS – É ainda hoje recordado
pelos adeptos como um dos melhores guarda-redes que passou pelo
clube. Sabe disso?
L – Muito obrigado. É um
orgulho saber isso e ter feito parte de alguns dos melhores momentos
da história do clube.
QFS – A sua primeira época
(89/90), de resto, foi inesquecível...
L – Subimos e no mesmo ano
fomos à final e à finalíssima da Taça. Foi uma entrada realmente
inesquecível, uma temporada maravilhosa. Quando ganhámos ao
Belenenses, nas meias-finais, e nos apurámos para a final, foi uma
loucura, a cidade toda ficou em festa até à final e depois à
finalíssima. Na Jugoslávia já tinha jogado finais, mas adeptos
como os do Farense, em termos de euforia pela equipa, não há. Eram
os melhores do país.
QFS – Foi uma desilusão a derrota
na finalíssima?
L – Ninguém ficou feliz por
perder, é óbvio, mas só o facto de chegarmos à final já foi
muito bom. O Estrela da Amadora na altura tinha jogadores de
prestígio, e também tivemos azar, falhámos alguns golos. Mas
chegar lá foi um feito completamente inesperado, ninguém pensava
que podia acontecer, éramos uma equipa da II Liga! A união daquele
grupo fez toda a diferença. O Paco Fortes criou um clima de respeito
entre todos, de família. Nunca houve problemas naquele grupo.
QFS – Foi difícil sair pela
primeira vez do seu país, na altura ainda a enorme Jugoslávia, e ir
jogar para a II Divisão?
L – Não foi fácil, sobretudo
porque não falava português e fui contratado para jogar desde logo.
Mas foi maravilhoso.
QFS – Foi titular absoluto da
baliza do Farense durante três épocas...
L – E penso que merecei.
Trabalhava muito para isso.
QFS – Foram os melhores anos da
sua carreira?
L – Sim, posso dizer que sim.
Gostei imenso de estar em Faro e no Farense. Viver três anos com
aquela intensidade, chegar à final da Taça, subir de divisão logo
no primeiro ano num clube com a dimensão do Farense, foi como ganhar
o campeonato.
QFS – Mantém o contacto com
colegas desse tempo?
L – Sempre. Tenho muitos
amigos em Faro, com quem tenho contactos diários. Vou matando assim
as saudades!
“A presença na final da Taça foi um
prémio de Carlos Queiroz”
QFS – Ainda perdeu mais duas
Taças, mas acabou por ganhar uma no Sporting. Estava difícil...
L – Mas ganhei uma Supertaça
no Boavista logo no primeiro ano, ao Porto. Nesse ano ganhámos três
vezes ao Porto. Foi fantástico ganhar um troféu ao campeão e nas
Antas. Mostrámos toda a nossa capacidade, tínhamos uma equipa
fabulosa.
QFS – Nesse ano viria a perder a
final da Taça para o Benfica por 5-2.
L – Entrámos muito corajosos,
mas o Benfica ganhou bem. O Futre tinha voltado há pouco tempo e fez
um grande jogo. Mas foi uma excelente partida, com um público
extraordinário, com golos, um penálti defendido...
QFS – É verdade, o Lemajic
defendeu o penálti do William...
L – Como defendi contra o
Porto e contra o Sporting. Defendi contra os três grandes (risos)!
QFS – E como se deu a chegada ao
Sporting já com 32 anos?
L – Na verdade, a minha
passagem pelo Boavista foi uma ponte para o Sporting. É que o
presidente Valentim Loureiro era do Sporting e a maneira que arranjou
para me impedir de ir para o Benfica, que me queria nesse ano, foi
contratar-me e prometer-me ao Sporting no ano seguinte. E assim foi.
Mas a questão da idade não se coloca quando uma pessoa trabalha bem
e é profissional. Tanto assim é que, quando saí do Sporting, ainda
joguei um ano no Marítimo e depois mais dois na Escócia
(Dumferline).
QFS – No Sporting travou um
interessante duelo com Costinha, que curiosamente já tinha jogado
consigo no Boavista...
L – Nunca o vi como um rival.
Era um jogador jovem, de grande futuro, e apoiei-o sempre a crescer.
Era uma óptima pessoa e um excelente guarda-redes.
QFS – E esteve na célebre noite
dos 3-6 em Alvalade, contra o Benfica...
L – É uma noite que fica para
a história. O João Pinto nunca mais na vida marcava três golos ao
Sporting, só naquela noite! Se calhar entrámos com algum excesso de
confiança: estávamos em primeiro e pensámos que ninguém nos podia
vencer...
QFS – Na final da Taça 94/95, que
o Sporting ganha ao Marítimo (2-0), entrou aos 87 minutos. Foi um
prémio do treinador Carlos Queiroz?
L – Eu comecei a época a
titular, mas depois lesionei-me. O Costinha agarrou o lugar e nunca
mais saiu. O Carlos Queiroz é um grande treinador, que cresceu muito
com a passagem pelo Sporting. Respeita muito os jogadores e deu-me
esse prémio porque achou que eu merecia participar nem que fosse um
minuto nessa conquista.
QFS – Nesse ano, até defrontou
por duas vezes o Real Madrid, na Taça UEFA!
L – Sim, e podíamos ter
passado a eliminatória. Depois de perdermos 1-0 em Madrid, em casa
jogámos bem, ganhámos bem, mas a bola não entrou mais [o Sporting
ganhou 2-1]. Falhámos muitos golos e depois o [Michael] Laudrup
marcou o único golo de cabeça na vida! Tivemos azar. Depois o Real
perdeu em casa [com o modesto Odense, da Dinamarca]. Perdemos uma boa
oportunidade de chegar longe. E merecíamos o título de campeão
nacional. Só faltou isso, ficou essa amargura.
QFS – Curiosamente, no ano em que
vence a Taça, o Farense apura-se para a Taça UEFA! Surpreendeu-o?
L – Sinceramente, não. Era
uma surpresa se soubesse que ali não se trabalhava bem, mas não era
o caso. O clube estava bem, jogava bem e não me surpreendeu.
QFS – E como surgiu o interesse do
Marítimo?
L – O Sporting prometeu-me que
ia renovar comigo por dois anos, depois mudaram de opinião. Como
queriam o Paulo Alves, iam meter-me no pacote dessa transferência e
enviar-me para o Marítimo. Brincaram comigo, perdi a confiança
neles e por isso rescindi. Já como jogador livre, recebi uma
proposta... do Marítimo. Aceitei e passei lá um ano agradável, a
equipa jogava bem, o clube era bem organizado e a Madeira muito
bonita.
QFS – Chegou a ir à seleção da
Jugoslávia?
L – Fui uma vez.
QFS – E gostava de ter
representado o Montenegro??
L – Sim, se na altura fosse
possível, gostava muito de ter jogado pelo Montenegro.
"Ró-Ró tem muito futuro"
QFS - Quem foram os melhores
jogadores com quem jogou?
L – No Farense, Ricardo, Mané
e Pitico. No Boavista, Sánchez, Alfredo e o capitão Casaca. No
Sporting, Figo, Peixe, Iordanov, Vujacic... E no Marítimo o capitão
Carlos Jorge.
QFS – E treinadores?
L – O Paco Fortes, o Manuel
José, o Carlos Queiroz. Que não me treinaram, mas que eram muito
bons e por quem tinha muito respeito, havia o Toni, o Eriksson, o
próprio Jorge Jesus.
QFS – Nos últimos anos foi
treinador de guarda-redes da seleção do Montenegro e também passou
pelo Al Ahli, do Qatar...
L – Sim, estive muitos anos na
seleção e depois surgiu a possibilidade de ir para esse clube, onde
acabou a carreira o Guardiola. O Qatar é um país muito rico, mas
ainda amador no futebol. Pode ser que cresça com o Mundial lá em
2022. Mas vai ter de se jogar no inverno; no verão é impossível,
as temperaturas rondam os 48 graus. É impensável jogar futebol
nessas condições. Só para malucos! O campeonato lá pára nessa
altura, não anda ninguém nas ruas, fica tudo fechado em casa com
ares condicionados.
QFS – Aí encontrou o Ró-Ró, que
completou a formação no Farense e ainda jogou na primeira equipa.
Sabia disso?
L – Sim, sei tudo sobre ele.
Chegou a meio da época [2010/11] e gostou do clube e do país. Além
disso, é muito bom jogador, trabalha muito e é um jogador de grande
futuro, merece uma oportunidade num clube maior. Encontrei mais gente
que conhecia de Portugal, como o Paulo Autuori e outros que foram
trabalhar para a Academia. É um país que aposta forte porque quer
evoluir no futebol, embora agora esteja a dar os lugares mais
importantes aos espanhóis, por serem os campeões da Europa e do
mundo.
QFS – Deixe uma mensagem para os
adeptos do Farense.
L – Desejo de todo o coração que consigam regressar à I Divisão. Mesmo nesta parte do mundo, continuo sempre a acompanhar e a torcer pela subida.
L – Desejo de todo o coração que consigam regressar à I Divisão. Mesmo nesta parte do mundo, continuo sempre a acompanhar e a torcer pela subida.
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