Farense capa

Farense capa

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Raul Barbosa



“Farense é o meu clube do coração”

Quantos Farenses somos? - Olá, Raul. Ainda está ligado ao futebol de alguma forma?

Raul Barbosa – Não, desde que deixei de jogar, em 1999, que me desliguei por completo do futebol. Trabalho há quatro anos numa empresa ligada à restauração e hotelaria.

QFS – E o Farense, continua a acompanhar?

RB – Sempre. É o meu clube do coração. Nasci em Angola mas vim para Faro com três anos, vivo em Faro e o Farense é o clube que me deixou marcas.

QFS – Como descreve esta temporada do clube?

RB – Sinceramente, surpreendeu-me. A II Liga é uma Liga muito competitiva, tem equipas muito fortes, especialmente as do Norte, apesar do dinheiro não abundar em nenhuma, mas o Farense conseguiu fazer uma época tranquila, mesmo com tantas mudanças de treinadores. Esperava mais dificuldades.

QFS – E acredita num regresso à I Liga num futuro próximo, ou acha que ainda é cedo para se colocar essa questão?

RB – Cedo nunca é, porque no Algarve só há um clube, digam os outros o que disserem. O Farense tem uma massa adepta espectacular, uma cidade que respira futebol, e o lugar deste clube é na I Liga. A ambição tem sempre de passar por estar nesse patamar.


“Devo tudo a Joaquim Sequeira”

QFS – Chegou ao Farense aos 22 anos, em 1994/95, proveniente do Padernense, que estava na…

RB – … III Divisão.
QFS – Como surgiu a oportunidade desse salto da III para a I Divisão?

RB – Foi pela mão do Joaquim Sequeira, uma pessoa que deixou marcas e a quem devo tudo. Foi ele que me indicou, porque já me conhecia do Padernense e também da formação do Farense. Depois, cheguei e consegui impor-me, naquela que foi a melhor época da história do clube.

QFS – Ainda se lembra do seu primeiro jogo na I Liga?

RB – Ainda, foi contra o União da Madeira. Ganhámos 1-0 ou 2-1 [foi mesmo 2-1]. Joguei como defesa-esquerdo.

QFS – Para os adeptos mais jovens, que já não se lembram de o ver jogar, qual era a posição do Raul em campo?

RB – Jogava como defesa-esquerdo ou às vezes defesa-direito. Era o que a equipa precisasse. Eu e o meu amigo Paixão ficávamos com a missão de marcar os jogadores mais influentes do adversário. Cheguei a fazer alguns jogos como médio defensivo também.
QFS – Qual foi o ponto alto dessa época?

RB – Tivemos vários, foi uma época fantástica, mas terei de dizer o 4-1 ao Benfica. Foi uma loucura!



QFS – Passados quase 20 anos, consegue explicar como foi possível vencer o Benfica por esses números?

RB – Então não consigo? (risos) Tínhamos uma equipa excelente, um plantel muito unido. O Benfica também não estava numa época boa, mas esse Farense era muito forte. Eu gostava muito de jogar no São Luís, as pessoas viviam o momento, eram muito fervorosas, davam-nos uma força anímica muito grande. Aquilo era o verdadeiro inferno para os adversários.

QFS – Esse jogo fica marcado pelos dois golos de Moussa N’Daw, de quem nunca mais se ouviu falar…

RB – E fui eu quem fez os passes para ele marcar os dois golos! Se não estou em erro, acho que ainda fiz mais uma assistência nesse dia. E realmente nunca mais ouvi falar do N’Daw, não sei o que é feito dele…


“Arrependo-me de ter rescindido com o Farense”

QFS – No final dessa época, contudo, acaba por rescindir com o Farense, juntamente com mais três colegas, o que ainda hoje é lembrado pelos adeptos…

RB – É verdade, saí eu, o Miguel Serôdio, o Hugo e o Sérgio Duarte. Foi com muita pena minha. Passávamos por uma série de dificuldades financeiras, mas o plantel tinha muita qualidade e havia várias propostas de clubes maiores, só que o Farense não nos deixava sair. Eu, por exemplo, tive uma proposta do Benfica que foi rejeitada. Acabei por rescindir a três ou quatro jornadas do fim, depois de uma vitória sobre o Guimarães [3-0], e assinei pelo Boavista, tal como o Serôdio e o Sérgio Duarte. Foi uma mágoa sair assim.



QFS – No Boavista as coisas correram-lhe bem?

RB – Correram, mas hoje arrependo-me de ter rescindido com o Farense. Se fosse hoje, tinha ficado mais anos. Mas na altura era muito jovem, tinha 23 anos e não pensamos bem nas coisas quando somos novos. Mas gostei muito de estar no Boavista, era um clube com uma estrutura totalmente diferente, que estava num processo de renovação, e fizemos uma grande época, ficámos em quarto lugar.

QFS – Porque voltou ao Farense em 96/97?

RB – O Ricardino Neto [então dirigente] pediu-me para voltar. Como não estava a jogar muito no Boavista, aceitei, mas já não foi como antes…

QFS – Que quer dizer?

RB – Para os adeptos, eu já não era o Raul que eles conheciam. O ambiente para comigo estava diferente, já não sentia o calor humano de antes. Principalmente quando as coisas me corriam mal. As pessoas não esqueceram a minha saída. Mas é normal.



QFS – Nessa época marcou o seu único golo oficial pelo Farense…

RB – É verdade, ao Gil Vicente. O meu único golo na I Liga. Foi de cabeça, vencemos por 2-1. Mas essa época já não teve nada a ver com a minha primeira no Farense. Acabámos por não descer, mas os jogadores que entraram entretanto não colmataram a qualidade dos que tinham saído daquela grande equipa.

QFS – No ano seguinte foi para a II Liga (Felgueiras). Porquê?

RB – Continuava ligado ao Boavista, mas não jogava e decidi aceitar a oferta do Felgueiras, que tinha descido e tinha a ambição de voltar à I Liga. O treinador era o Jorge Jesus, o melhor treinador que tive na carreira. Em método de treino, a nível tático, tudo. Era muito difícil lidar com ele (risos), mas em termos de conhecimento foi o melhor.

QFS – Mas a experiência não correu da melhor forma...

RB – O clube não estava bem em termos monetários, passava por grandes dificuldades, e o Jorge Jesus acabou por sair a meio da época. Fizemos uma época irregular [nono lugar].



QFS – No final dessa época joga… a CAN, a principal competição africana de selecções, por Angola!

RB – Sim, eu nasci em Angola e surgiu essa oportunidade: na altura o seleccionador era o Professor Neca, ele conhecia-me de Portugal e chamou-me para jogar na CAN. Já tinha tido vários convites, quando o seleccionador era o Carlos Alhinho, mas rejeitei sempre, porque tinha a esperança de jogar na selecção portuguesa. Mas aquela oportunidade não desperdicei.

QFS – Na altura Angola tinha pouca expressão no futebol africano…

RB – Mas tínhamos uma selecção muito forte, com Akwá, Paulão, Quinzinho, o Luís Miguel, que jogava no Sporting, o Lázaro, o Lito Vidigal… A equipa era excelente, e até começámos bem, empatámos 0-0 com a África do Sul, que era muito poderosa na altura [e a campeã em título]. Mas depois fomos muito roubados! Empatámos com a Namíbia [3-3] e depois perdemos o último jogo com a Costa do Marfim [2-5]. Mas foi uma experiência que me deixou muitas saudades. Esporadicamente ainda falo com alguns jogadores desse grupo.

QFS – Em 98/99 foi para o União da Madeira…

RB – Detestei essa experiência. Um clube muito desorganizado, não tínhamos onde treinar, os salários sempre em atraso… Foi o pior clube por onde passei. Gostei muito do Funchal, de lá viver, mas do clube não. E desceu no fim da época…

QFS – Depois voltou à I Liga, mas não chegou a jogar pelo Santa Clara. Porquê?

RB – Porque sofri aí uma lesão grave que me fez acabar a carreira aos 27 anos. No aquecimento na primeira jornada, com o Sporting, fiz uma ruptura, mas antes, na pré-época, numa digressão pelas ilhas lá dos Açores, tinha sofrido uma lesão na coluna e mais tarde tive de ser operado. Ainda tentei voltar, mas o doutor Lobo Antunes, que me operou, avisou-me sempre que o melhor era deixar de jogar. A partir daí, nunca mais joguei, nem com amigos.


“Ver o Farense a jogar em pelados foi uma mágoa enorme”

QFS – Mesmo retirado, foi acompanhando o calvário por que passou o Farense?

RB – Sempre, e com grande tristeza. Ver um clube como o Farense, um histórico do futebol português, a jogar em pelados nos distritais… Foi uma mágoa enorme. Nunca pensei que o clube pudesse cair assim.

QFS – E nessa fase acreditava que era possível o clube voltar ao nível que está hoje?

RB – Sempre acreditei, porque o Farense é um clube com história, um clube mítico. Já foi à UEFA, já foi à final da Taça…

QFS – Considera que o apoio dos adeptos, e em particular dos South Side Boys, também foi fundamental nesse regresso?

RB – Plenamente. Tenho um apreço muito especial pelos South Side, um dos fundadores é meu sobrinho, o Paulo Castilho. Eles nunca desistiram, sempre acreditaram e nunca deixaram de apoiar a equipa. E tenho a certeza que se o Farense voltar à I Liga, o estádio vai voltar a encher muitas vezes.

QFS – Viu, o ano passado, a enchente no jogo da subida com o Leiria?

RB – Vi, e fez-me recordar os momentos passados naquele estádio. A massa adepta aderiu em força.
QFS – Esteve presente no jogo de confraternização dos 100 anos do clube, em 2010…

RB – Estive lá e estarei sempre disponível para qualquer coisa que for preciso no Farense. Joguei só dois anos na primeira equipa, mas formei-me no Farense e os melhores momentos da minha vida foram ali.



QFS - Quem foram os melhores jogadores com quem jogou?

RB – Foram muitos. Timofte, Erwin Sánchez, Nuno Gomes, Ricardo, Artur [Boavista]. No Farense, o Hajry, o Hassan, o Rufai… E defrontei muitos muito bons, o João Pinto, o Balakov, o Preud’Homme… foram muitos.

QFS – E treinadores? Já falou de Jorge Jesus…

RB – O Joaquim Sequeira, no Padernense e também no Farense, onde foi adjunto do Paco Fortes. O Paco, que dava uma força anímica como ninguém, uma garra, mística enorme. O Manuel José, também um grande treinador, e o Manuel Fernandes.

QFS – Quer deixar uma mensagem para os adeptos do Farense?

RB – Acreditem sempre e não abandonem o Farense, porque é um grande clube.


quarta-feira, 16 de abril de 2014

Edinho



“Só quem jogou no Farense sabe o que se sente ali”

Quantos Farenses somos? - Olá, Edinho. Que é feito de si? Ainda está ligado ao futebol?

Edinho – Este ano não estou, estive nas últimas épocas nas camadas jovens do Olhanense, subi a equipa de juvenis e a de juniores para a I Divisão com o Hélder [Rocha]. Agora estou à espera de novas propostas.

QFS – E continua a seguir o percurso do Farense?

E – Sempre. Tenho o meu filho mais novo nos juniores do Farense e sempre que posso vou ao S. Luís ver os jogos. Deixei lá muitos amigos e sou sempre muito acarinhado.

QFS – Como classifica a temporada do clube?

E – Está dentro do que eu esperava. E, mesmo sabendo que não há “ses” no futebol, penso que com um pouco mais de sorte o Farense poderia neste momento estar a lutar pela subida. Teve alguns problemas no início da época, depois mudou de treinador e, como se costuma dizer, acabou por perder o comboio. Mas gosto de ver o Farense a jogar, é uma equipa aguerrida, conheço alguns jogadores, joguei com alguns até, o presidente, os dirigentes. É uma equipa com a marca de Faro.

QFS – Acredita num regresso à I Liga num futuro próximo?

E – Quem está à frente do clube vai apostar fortemente nisso. O Farense já tem uma estrutura forte, que ainda tem de melhorar aqui e ali, mas isso é normal num clube que passou pelo que o Farense passou. Os dirigentes sabem o que têm de fazer, e prevejo uma luta forte e engraçada para a próxima época com, ao que tudo indica, três clubes do Algarve a lutar pela subida, se o Olhanense descer e o Portimonense não subir.

QFS – Chegou ao Farense já com 41 anos!

E – São coisas do futebol. Mas quando os jogadores são profissionais e marcam as passagens pelos vários clubes pela positiva, não há idades. Eu estava bem no Campinense nessa época [2007/08], na III Divisão, a fazer um campeonato espectacular, já tinha uns nove golos e era o melhor marcador. Tínhamos uma boa equipa, mas o presidente Barão insistiu muito comigo para ir para o Farense, explicou-me o projecto, que só passava pela subida aos nacionais, e que precisava de mim para marcar golos. Como sou ambicioso, pensei “vamos embora, vamos fazer uma gracinha”!


QFS – E cumpriu a sua parte.

E – É verdade. Não sei quantos golos marquei, mas foram mais de 10 tranquilo [de facto, foram 14]! Sempre a titular. Ainda fui a tempo. Cumpri os objetivos a que me propus, sempre apoiado por aquela claque magnífica. Em todo o lado onde íamos jogar, era mais gente nossa que da casa. E nos distritais, atenção! Para eles, não há chuva, não há sol: vão a toda a parte! Joguei em 10 clubes em Portugal, cada um com a sua história e não vou comparar as dimensões, mas só quem passou pelo Farense, quem jogou lá, é que sabe o que se sente.

QFS – Nunca é tarde para aprender?

E – Nunca. Às vezes os meus colegas mais novos gozavam comigo nos treinos, porque eu estava sempre lá à frente e queria ouvir tudo. Chamavam-me velhote, diziam para sair dali (risos). Mas uma pessoa nunca sabe tudo. Para conseguir alguma coisa na vida, temos de ter esta postura.


“A Taça UEFA foi o ponto mais alto da minha carreira”

QFS – O Farense foi o seu primeiro clube em Portugal, chegou cá em 90/91, mas não chegou a jogar. Que aconteceu?

E – Eu vim do Brasil directo para o Farense, só que na altura havia limite de estrangeiros e o clube já tinha muitos. Ainda joguei um jogo para uma Taça qualquer, e nesse jogo estava lá um director do Olhanense, que me viu e gostou de mim. Quando acabou o jogo, chamou-me e perguntou se eu queria ir para o Olhanense. Aceitei, o que eu queria era jogar.


QFS – Aí já correu bem...

E – Subi de divisão, da II B para a II Liga. Como subi depois no Portimonense, também da II B para a II, e mais tarde outra vez no Olhanense e depois no Farense. No Olhanense, fui um dos melhores marcadores da II B nessa época [19 golos] e o melhor em 2003/04, já com 36 anos [22 golos]. No Vizela também fui uma vez, na II B [33 golos em 31 jogos ], e na II Liga no Portimonense [93/94, 16 golos].



QFS – Surge então o Chaves e a I Liga.

E – Onde fui o quinto melhor marcador do campeonato [14 golos].

QFS – Daí vai para o Sporting, mas não chega a fazer qualquer jogo lá...

E – Foi o presidente Sousa Cintra que me contratou, mas quando cheguei lá vi que havia muitos avançados. Percebi logo que não ia jogar. Entretanto apareceu o interesse do Guimarães, que me queria a mim e ao Capucho para lutar pela qualificação para a Taça UEFA. Aceitei logo – o Sporting acabou por tirar de lá o Pedro Barbosa e o Pedro Martins. No primeiro ano no clube, ganhei logo a Bota de Bronze [terceiro melhor marcador do campeonato, com 15 golos].



QFS – E jogou na Taça UEFA.

E – Sim, foi o ponto mais alto da minha carreira. Jogar no Camp Nou, com o Barcelona, com o Parma, com o Anderlecht. E marquei ao Standard de Liège.



QFS – Pelas pesquisas que fizemos para esta entrevista, o Edinho ainda hoje é muito acarinhado em Guimarães!

E – Sempre que lá vou, as pessoas vêm ter comigo, batem-me no ombro, saúdam-me sempre. Ainda há uns tempos fui ao Norte com a selecção, acompanhar o meu filho, e muita gente me veio cumprimentar. Adoro o Algarve, ainda hoje vivo em Olhão, porque a minha mulher é de lá, mas joguei 8 anos no Norte e também gosto muito de lá estar.


QFS – Depois foi para Inglaterra, passou pela Escócia, regressou ao Algarve e ao Norte e ainda passou pelo Alentejo e pela Madeira! Jogou em todas as divisões do futebol nacional.

E – Sim, conheci todas. Mas na altura era diferente, havia menos divisões. Hoje há muitas séries, o que faz com que os clubes grandes não se interessem tanto pelos campeonatos das divisões mais baixas. Há lá boas equipas e bons jogadores, mas acabam por passar despercebidos por haver tanta equipa e tanta série.

“O apoio do público no S. Luís consegue transformar um jogador”

QFS – Os seus momentos áureos coincidiram também com os momentos áureos do Farense. Foi acompanhando a situação por que o clube foi passando?

E – Seguia sempre, porque o Farense foi o meu primeiro clube em Portugal e sempre acompanhei. Foi por coisas de empresários, loucuras grandes em termos financeiros. Mas o Farense nesses anos tinha uma equipa espectacular, quem lá ia jogar já sabia que era complicado. Comparo o campo aos estádios ingleses: há um grande fanatismo, o público em cima do campo a gritar e a apoiar, isso dá um balanço grande aos jogadores. Se um jogador estiver mais em baixo, recebe aquele apoio e consegue transformar-se. Ninguém passa a ser um Messi ou um Cristiano Ronaldo, claro (risos), mas é um apoio muito importante em termos psicológicos.

QFS – E quando regressou, no início de 2008, acreditou que era possível o clube estar hoje onde está?

E – Acreditei sempre, porque quem joga ali e vive o clube por dentro sabe bem do que é possível acontecer ali. Essa época foi o ponto de viragem.

QFS – Já anteriormente falou do apoio dos adeptos. Como o descreve na época em que jogou no clube, 2007/08?

E – Quando cheguei, jogávamos no Estádio do Algarve. As pessoas iam lá na mesma, mas queríamos todos era jogar no S. Luís, porque sabíamos que teria muito mais gente. Algumas pessoas, como as mais velhas, não podiam ir ao Estádio do Algarve; se fosse dentro da cidade já iam. No último jogo, que foi no Estádio do Algarve, estavam lá 1500, 1700 pessoas. Isto na distrital! Fora, levávamos 700, 800 pessoas. O estádio era todo nosso, fosse onde fosse!

QFS – Guarda, portanto, muito boas recordações da sua passagem pelo Farense.

E – Muito. Não esqueço nunca, como jogador e como treinador.


QFS – É verdade, em 2009/10 passou a ser o treinador principal.

E – Primeiro fui adjunto do Barão, o actual presidente. Depois dessa época acabar [2007/08] ainda queria jogar mais, mas ele convenceu-me, disse que precisava de mim a ajudá-lo como adjunto. Acabei por aceitar: assim acabei em grande, campeão e melhor marcador! Depois, na época seguinte convidou-me para treinador e aceitei.

QFS – Mas a experiência não durou muito tempo...

E – As coisas não estavam a correr como o Barão pretendia. Em oito jogos, consegui seis vitórias, um empate e uma derrota. Estávamos na luta, mas ele achou que era preciso algo mais e concordámos com a minha saída. Mas é futebol, saí sem problemas nenhuns com ninguém.


“O meu filho mais novo já bebe o espírito do clube há três anos”

QFS - Quem foram os melhores jogadores com quem jogou?

E – Joguei com tantos muito bons, internacionais e outros que não o chegaram a ser mas que tinham valor para isso. Prefiro não destacar nenhum em especial.

QFS – E treinadores?

E – A mesma coisa. Tive muitos, a maioria marcou-me pela positiva, mas mesmo os que foram menos bons ensinaram-me alguma coisa, neste caso a não fazer igual.

QFS – O seu filho, Edinho Júnior, também é avançado e está agora nos Estados Unidos. Gostava de o ver um dia com a camisola do Farense?

E – Agora está lá, está contente e a jogar. A equipa dele, o Harrisburg City Islanders, é a equipa B do Philadelphia Union, que está na MLS [a I Liga dos Estados Unidos], por isso ele tem perspectivas de poder jogar lá, o objectivo principal é esse. Ele é profissional, mas claro que gostaria de o ver um dia no Farense. Ia sentir o que é jogar naquele clube. O mais novo já lá está há três anos, já vai bebendo o espírito do clube! (risos)

QFS – Que mensagem deixa aos adeptos do Farense?

E – Que continuem a amar o clube e todos os jogadores que por lá passam. Com essa força que eles transmitem, a curto prazo o Farense vai voltar a estar na I Divisão, porque o merece.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

José Rafael




“Farense é a minha paixão eterna”

Quantos Farenses somos? - Olá, José Rafael. Que é feito de si, passados 26 anos de se retirar do futebol?

José Rafael – Estou a trabalhar com duas marcas de artigos de desporto, uma delas ligada ao futebol, a Lotto.

QFS – Mas encontra-se por terras algarvias?

JR – Não, desde a época 83/84, a última em que joguei no Farense, que não estou no Algarve. Vivi muito tempo no Porto, agora estou a morar perto de Lisboa.

QFS – E continua a seguir o Farense?

JR – Sempre, é o clube do meu coração, a minha paixão eterna. Sou de Faro, comecei no Farense com 11 anos, fiz parte das primeiras equipas de escolinhas do clube. E depois cumpri o sonho de qualquer criança, o de jogar pelo clube da terra. Sou ainda hoje o jogador mais novo de sempre a jogar pela primeira equipa e o mais novo a jogar como titular.


QFS – Estreou-se com que idade na equipa sénior?

JR – Com 17 anos em 75/76. E só não me pude estrear na época anterior porque estava inscrito como juvenil, e nessa altura só se podia jogar pelos seniores estando inscrito pelo menos nos juniores.

QFS – Nessa época o Farense desce. Cumpre depois três temporadas na equipa principal, na II Liga, antes de sair para o Portimonense…

JR – E fui o melhor marcador da equipa em 77/78, com 18 ou 19 golos, mesmo tendo saído durante a época para o Canadá. Depois voltei e, apesar de uma lesão grave, acabei a época de 78/79 com 12 ou 13 golos. Foi aí que surgiu a oportunidade de ir para a I Liga, para o Portimonense.

QFS – Nesses três anos, o Farense tinha como objetivo a subida?

JR – Acho que a questão nunca foi colocada dessa forma, porque tínhamos muitos jogadores muito jovens. Mesmo assim, houve um ano em que andámos sempre perto dos primeiros lugares, mas a demasiada juventude e as muitas lesões que havia no plantel impediram a equipa de subir.



“A minha média de golos por jogo no Farense é superior à do Hassan”


QFS – Esteve duas épocas em Portimão, mas não foi muito feliz…

JR – Tive o azar de ter de ir para a tropa em Setembro. Nessa primeira época [79/80], o primeiro jogo que fiz no campeonato foi a cinco, seis jornadas do fim da época. Depois fiquei mais um ano e seguiu-se o Amora, que pela primeira vez na história estava na I Divisão.


QFS – Gostou de lá jogar?

JR – Sim, bastante. Tínhamos um bom lote de jogadores, malta nova com muito valor: vários acabaram por chegar à selecção, como o Jaime, o Jorge Plácido, o Ribeiro, além de mim. Os problemas nesse clube eram outros: a falta de pagamentos, por exemplo. Acabámos por descer em 82/83 por causa disso.

QFS – Por pouco não se cruzou lá com Vítor Baptista, lendária figura do futebol português, mas de certeza que ainda soube várias histórias dele…

JR – Havia uma sempre contada de uma ocasião em que estava a recuperar de lesão e se pôs a chutar bolas ao Jorge [guarda-redes] num quarto. Partiu três candeeiros (risos)! Mais tarde, quando eu já jogava no Setúbal, vinha ter connosco, a malta pagava-lhe o almoço e dava-lhe dinheiro, e ele perguntava “Só isto?” Já estava completamente agarrado aos vícios…


QFS – E em 83/84 voltou ao Farense, que estava de regresso à I Liga. Porquê?

JR – Porque o tinha prometido ao meu pai e às pessoas do clube. Tinha propostas muito, muito superiores em termos financeiros, dez vezes mais, de Académica, Guimarães, Beira-Mar, mas não podia faltar à minha promessa. E quando fui assinar, o presidente Barata retirou-me 15 por cento do valor que tínhamos acordado inicialmente. Aceitei à mesma, porque queria cumprir a minha palavra, mas ia trazer comigo três craques do Amora que mal viram aquele cenário foram embora. O presidente não tinha noção da qualidade daqueles jogadores.

QFS – Já era um clube diferente do que tinha conhecido nos anos 70?

JR – Sim, em todos os níveis. A entrada do presidente Barata mudou tudo, a nível de campos, de departamento médico, de equipamentos, estrutura, bons directores… Não tinha comparação, antes não tinha nada disso, andou ali uns anos a patinar. Os problemas depois foram outros… Por exemplo, entrámos no campeonato com o plantel ainda nem com dois terços da sua formação total! Essa época podia ter-nos corrido melhor com um plantel mais equilibrado. Na fase final caímos um bocado, acabámos duas ou três posições acima da zona de descida.

QFS – Até se lesionar com gravidade, era um dos melhores marcadores do campeonato nessa época…

JR – Era o melhor, do campeonato e da Taça! Se não tivesse partido a perna, quase de certeza tinha sido o melhor marcador do campeonato. Tinha jogadores de grande qualidade a servir-me, o Gil, o primeiro brasileiro titular na selecção a vir para Portugal, e outro brasileiro também muito bom no outro lado [César]. Há pouco tempo um amigo esteve a fazer a relação golos/jogo e concluiu que a minha média na equipa sénior é mesmo superior à do Hassan! E antes da época começar já tinha 9 ou 10 golos marcados nos particulares. Marquei logo no primeiro treino com bola, marquei 2 golos num particular com os húngaros do MTK…

QFS – Como se deu a grave lesão que o afastou dos relvados largos meses?

JR – Foi uma entrada do Jayme, um central brasileiro [hoje treinador do Flamengo] num treino, que me rebentou com os ligamentos. Levei várias semanas sem treinar, só a jogar sob o efeito de infiltrações. Era o querer jogar, ajudar a equipa. Mesmo assim, marcava: lembro-me de um jogo treino com o Quarteirense em que marquei “só” cinco ou seis golos de cabeça! Antes da primeira volta acabar já tinha 11 golos!

QFS – Nessa época jogou, entre outros nomes históricos do futebol português e do Farense, com Jorge Jesus, o actual treinador do Benfica. Ele já tinha esta forma de estar no futebol que lhe conhecemos enquanto treinador?

JR – Ele é que jogou comigo (risos)! Mas sim, via-se que já interpretava de forma diferente o que o treinador lhe pedia. Às vezes até se insurgia com as metodologias de treino do Mladenov, que tinha só levado a Bulgária ao Mundial de 74, enquanto Portugal não ia nunca a lado nenhum!



“Temos uma massa associativa superior a todos os clubes do Algarve juntos”


QFS – Muda-se então para o Boavista, onde acaba por chegar à selecção, tornando-se no primeiro jogador formado no Farense a consegui-lo!

JR – No Boavista cheguei à selecção A, no Farense já tinha ido à selecção olímpica. Fui o primeiro formado no Farense a chegar lá e fui o primeiro formado no Farense a marcar pela selecção num apuramento para o Mundial.

QFS – Nota-se a sua paixão pelo Farense a cada resposta!

JR – É um amor tremendo ao clube. Gosto muito de todos os clubes onde joguei, mas 95 por cento de mim é do Farense. Cheguei mesmo a ter alguns dissabores na carreira nos outros clubes por onde passei por dizer isto, não o interpretavam bem. Quando acabava qualquer jogo do Farense, o massagista do clube onde eu estava vinha logo dizer-me o resultado. E quando jogava pelo Farense, ficava com o dobro da azia quando perdia: a de jogador e a de adepto! Só uma pessoa nascida e formada no clube é que compreende esse sentimento. Chegar da Alemanha e ver o Farense em Vendas Novas, a jogar com os juniores; jogos em Aljezur, São Brás, milhentos sítios inacreditáveis… Há uma história que não esqueço em Portimão…

QFS – Conte!

JR – Há 30 anos, ganhámos 3-2 lá, com três golos meus, mas o árbitro invalidou-me um mal, ficou 2-2. Nesse jogo, a bancada em frente à principal do estádio do Portimonense estava cheia de adeptos do Farense. E as duas do lado, mais de metade era Farense. Lanço um desafio para que isto se volte a repetir!


QFS – Voltou a jogar no São Luís em 2010, no jogo de comemoração do centenário!

JR – Foi giro, a malta voltou a encontrar-se passados tantos anos. E para variar, marquei o primeiro golo do jogo (risos)!

QFS – Chegou a pensar que o clube não voltaria a um patamar como o actual?

JR – Sempre tive fé, sempre acreditei que era possível, que iria aparecer alguém para ajudar o clube. Nós temos o mais importante: massa associativa. Nesse aspecto, somos superiores a todos os outros clubes do Algarve juntos! Pode escrevê-lo mesmo assim, apesar de eu ter jogado no Portimonense! O meu pai continuou sempre a trabalhar, sempre a cobrar as quotas e houve sempre gente a pagá-las mesmo sem o clube competir! Isso é amor, a nossa massa associativa é fascinante, fantástica. Estou a dizer isto e até estou comovido!

QFS – E o regresso à I Liga, está para breve?

JR – Sinceramente, ainda nos falta melhorar em muita coisa. Temos de conseguir mais estabilidade em termos directivos. Falta um departamento médico profissional, um departamento de fisioterapia, e numa II Liga, isso paga-se muito caro. Para mim, este ano devia fazer-se um investimento nesse sector. Temos a trabalhar no clube pessoas que passaram por clubes com uma estrutura verdadeiramente profissional, como o Fajardo, que esteve no Guimarães, no Belenenses, ou o Hugo Luz, que sabem perfeitamente como se trabalha a este nível. É muito importante ter um bom departamento médico, caso contrário qualquer lesão leva meses e meses a curar… Temos de fazer um grande investimento nesse sentido para poder ombrear com outros clubes.

QFS – E em termos de plantel?

JR – Também é preciso uma mudança. Faltam jogadores com intuição de golo, por exemplo, e falta quem crie ocasiões. Muitas vezes, o futebol que é praticado é aos repelões, e temos de mudar isso.

QFS – Quanto ao apoio do público, considera que tem sido bom?

JR – Nos últimos tempos, tenho notado que está a ir cada vez menos gente ao futebol em Faro. Esse é um aspecto onde somos superiores a todos os outros clubes na II Liga e sei que, se subirmos, vamos encher muitas vezes o estádio, mas é preciso que as pessoas vão ao futebol mesmo na II Liga. E a nossa claque é fabulosa, única, maravilhosa, tenho uma enorme paixão por eles, mas nem sempre gere bem os tempos de jogo. Há períodos em que se tem de puxar pela equipa, há períodos em que se tem de fazer pressão sobre o fiscal de linha, sobre a equipa adversária… Mas pronto, eles são muito bons em muita coisa e não se pode ser em tudo. Eu era muito bom a jogar de cabeça, na impulsão, no remate, mas noutras coisas já não era tão forte. É mesmo assim.


“Não fui ao Mundial 86 por pressões de clubes grandes"




QFS – Pode dizer-se que acabou por ser decisivo para a presença de Portugal no Mundial de 1986, pois marcou um dos golos da vitória apertada sobre Malta por 3-2 no jogo em que se estreou!

JR – Sim, entrei ao intervalo, fiz uma grande exibição e também estive bem nos últimos minutos da vitória histórica sobre a Alemanha [onde Portugal se apurou para o Mundial com o golaço de Carlos Manuel]. Além disso, fui o terceiro ou quarto melhor nos testes físicos, nos treinos marcava golos, é ler as crónicas dos jornais na altura.

 

QFS – Mas acabou por ficar de fora da lista final…

JR – O José Torres, então o seleccionador, disse quando Portugal se apurou que eram aqueles jogadores que iam ao México. Entretanto, continuei a marcar nos últimos jogos do campeonato [terminou a época com 10 golos], e depois não fui convocado. Mais tarde, quando ele foi treinar o Boavista, pediu-me desculpa e disse que tinha sido pressionado para levar jogadores de clubes… mais fortes.

QFS – Nessa época de 85/86 disputou a Taça UEFA, onde também marcou!

JR – Marquei dois golos ao Club Brugge, que na altura era o maior clube da Bélgica, campeão quatro ou cinco anos seguidos. Tinham uma grande equipa, com Papin, Degryse, Ceulemans, Van der Elst. Ganhámos 4-3 no Bessa, mas lá perdemos 3-1.

QFS – 86/87 é que já não correu tão bem: fez apenas 17 jogos e 5 golos…

JR – Levei um pontapé do Nelito e andei muito tempo com um problema gravíssimo, nem conseguia correr. Os árbitros na altura eram muito permissivos, não viam como os defesas limavam os pitons. Os avançados sofriam muito. Depois saiu o João Alves, entrou o José Torres e depois o Pepe, e no fim da época decidi sair. Tive um convite do Setúbal e estava chateado com o Valentim Loureiro, que se tinha posto do lado do Amora na questão dos ordenados que me ficaram a dever: um ano no total! Por isso saí. Mas devo muito ao Boavista, e aproveito a ocasião para dizer que estou muito satisfeito pela decisão que o devolve à I Liga. Deixo o meu abraço a todos, desde os dirigentes ao Petit, e à claque dos Panteras, que tal como os South Side são fantásticos. Há pouco tempo fui lá e tive uma recepção que me deixou comovido, não me esqueceram. Com todo o respeito para os clubes que estão agora na I Liga, mas o Boavista é um histórico e pertence ao principal escalão do futebol português.
QFS – Depois do Boavista, representou ainda o Setúbal e o Belenenses…

JR – No Setúbal comecei bem, mas depois sofri uma lesão complicada numa brincadeira com o Neno e acabei por perder o lugar.

QFS – A concorrência também era complicada, com nomes como Manuel Fernandes ou Jordão…

JR – Eram dois craques. O Jordão vinha de uma paragem de ano e meio, mas mesmo assim ainda marcava muitos golos. Tinha boa relação com eles, já os conhecia da selecção e falei com o Manel quando fui convidado para jogar no Sporting.

QFS – Teve uma proposta do Sporting?

JR – Sim, no ano em que fui à selecção. Mas o Boavista pediu muito dinheiro, o João Alves não queria que eu saísse, e acabei por ficar.

QFS – Depois foi para o Belenenses, mas nem chegou a jogar a nível oficial…

JR – Rasguei o tendão de Aquiles, tive de ser quatro vezes operado, porque as coisas foram mal feitas. As feridas infectavam, duas semanas depois da operação criavam pus e tinham de ser abertas de novo. Foi a mesma lesão que o Helton [do Porto] teve agora. Não deu para jogar mais. Mesmo assim, já depois de estarmos retirados, fizemos um jogo com o plantel do Belenenses. Marquei três golos e o Jordão dois. Pela frente tínhamos nada mais nada menos que o Paulo Madeira…


“Quando vejo um avançado, sei à primeira vista se tem ou não capacidades"

Quem foram os melhores jogadores com quem jogou?

JR – Podia falar do Jordão, do Manuel Fernandes, do Filipovic, com quem joguei no Boavista, do João Alves, já veterano mas ainda com uma técnica invulgar. Tínhamos um ataque tão forte no Boavista que o Folha, que vinha do Benfica, nem ao banco ia. Coelho, Tonanha, Zé Pedro, depois o Bertolazzi e o Nunes, que tinha ganho a Libertadores pelo Flamengo. Mas joguei com tão grandes jogadores, em tantas posições, que não me ficava bem estar a individualizar.

QFS – E treinadores?

JR – Otelo Valério, ainda nas camadas jovens do Farense. Chumbinho, Bentinho, o tio do Balela. Fernando Mendes, Assis, o Pedro Gomes, que me treinou nos juniores e nos seniores. Luís Mira, também. Depois o Mladenov e o Cajuda, em 83/84. O João Alves, o Mário Wilson, o José Torres, o Malcolm Allison no Setúbal. Uma vez quis pôr-me a defesa esquerdo, num jogo treino com o Gotemburgo, e até marquei nesse jogo. Depois lesionei-me e o Hernâni [mais tarde jogador do Benfica que já tinha passado pelo Farense] ficou com o lugar. O Manuel Fernandes, que vi logo que ia ser treinador e que até estranho como não fez uma carreira melhor – talvez por ser boa pessoa de mais… No Belenenses, o Marinho Peres. Houve ainda o Manuel de Oliveira, o primeiro treinador nos séniores do Farense, ou o [António] Medeiros, que no Amora esteve 16 ou 17 dias sem aparecer para treinar porque tinha um mês de salários em atraso. Depois foi com a equipa para Guimarães, onde levámos 7-1, e no fim deu uma entrevista a criticar os jogadores por falta de empenho…


QFS – Como se descreve enquanto jogador?

JR – Era um ponta de lança nato. Um jogador de área, com intuição, rapidez de execução, remate de primeira, concretizador. É por isso que quando vejo um avançado jogar, à primeira vejo logo se tem ou não capacidade. O futebol só tem duas posições específicas: guarda-redes e ponta de lança. Em pequenino, todos querem marcar golos, e depois há os malucos que têm aquela pancada para defender!

QFS – Quer deixar uma mensagem aos adeptos do Farense?

JR – Continuem a apoiar a equipa sempre, façam do São Luís um inferno, não deixem de lá ir. Nos últimos tempos perdemos predominância em casa, vai menos gente ao estádio, há menos apoio e isso não pode acontecer. É muito importante exercer o factor casa. Atravessámos o deserto do Saara, dos Andes, todos os desertos possíveis, e se Deus quiser iremos estar brevemente na I Liga a dar cabo da cabeça aos grandes. Na final da Taça de Portugal, em 89/90, fiz 6 mil t-shirts com uma única expressão: Farense sempre! É isso que quero ver sempre nesta massa associativa.