Farense capa

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sábado, 1 de março de 2014

Hassan




“Estou sempre atento ao Farense”

Quantos Farenses somos? - Olá, Hassan. Que é feito de si?

Hassan - Estou há um ano e tal em Marrocos. Voltei a trabalhar no WAC Casablanca, primeiro como diretor-técnico e agora estou como adjunto. O nosso objetivo é o título, ainda falta muito campeonato.

QFS – Mas continua atento ao Farense?

H - Sempre. Estou sempre atento aos resultados do Farense e a Portugal, até porque tenho aí os meus filhos, em Setúbal – um deles joga no Vitória, está este ano emprestado ao Casa Pia. Fiquei muito contente com as várias subidas consecutivas, não é fácil subir tantas divisões em tão pouco tempo.

QFS – Conhece bem o professor Antero. É boa escolha para assumir agora o comando da equipa?

H – Ui, conheço-o há muitos anos. Está lá há muito tempo, para já é a escolha certa. Subir está muito difícil, os primeiros já estão um bocado distantes, mas em termos de permanência o objetivo está bastante próximo.


QFS - Quem foram os melhores jogadores com quem jogou?

H – No Farense, Hajry, Sérgio Duarte e Rufai. O Marinescu também era muito bom. Depois, no Benfica, Michel Preud'homme, claro, João Pinto, Valdo e o Ricardo Gomes.

QFS – E treinadores?

H – Obviamente, o Paco Fortes. Aquela maneira dele de estar no banco, os gritos, a fúria... Se pudesse entrar em campo e jogar connosco (risos)... Vivia muito o jogo, dava raça, querer à equipa. Também gostei do estilo sério do Manuel José, muito frontal, não brincava.

QFS – Continua a falar com colegas dos tempos do Farense?

H - Vou falando com muitos no facebook, ou mesmo por telefone.

QFS – Em 2010 teve um diferendo com o clube. Está resolvido?

H – Está a ser resolvido aos poucos... Sei que o presidente Barão ficou chateado comigo, mas não tenho problemas com ninguém e acho que está a fazer um bom trabalho. Quando pus o processo ao clube, falei com os dirigentes antes e eles compreenderam a minha situação. Foram muitos anos a ficar com salários em atraso, e também tenho família, também precisava de pensar na minha mulher e nos meus filhos. Julgo que as pessoas percebiam a minha situação.



“O João Pinto dizia-me que o São Luís era o pior sítio para ir jogar, um inferno!”

QFS – É considerado unanimemente como um dos melhores jogadores, se não o melhor, da história do clube, além de ser o melhor marcador. Que sente quando pensa nisso?

H - É um grande orgulho para mim. No ano em que fui o melhor marcador do campeonato, com 21 golos, foi um grande ano. Chegámos à Europa, foi uma época histórica, e foi um grande orgulho ganhar na luta com os avançados dos grandes, que tinham muito mais condições para marcar golos do que eu. Ver o meu nome ali, como o melhor marcador de 94/95, um jogador do Farense, é um grande orgulho e algo que ficará para sempre na história do futebol português. E consegui-o sem penaltys! Era o Portela que marcava, e às vezes o Hajry.



QFS – Nessa época chegaram a ganhar 4-1 ao Benfica!

H - Foi inesquecível, ganhar 4-1 ao Benfica não é todos os dias! O São Luís era um inferno, quando cheguei ao Benfica o João Pinto dizia-me sempre isso: era o pior estádio para ir jogar!



QFS – E na eliminatória com o Lyon, gostava de ter lá estado?

H – Eu até pedi lá no Benfica para me deixarem ir ao Farense só jogar esses jogos (risos)! Do que vi, acho que comigo lá seria diferente. O Farense bateu-se bem, aquele Lyon também ainda não era a equipa que se tornou depois e acredito que eu lhes podia ter feito golos.




QFS – Que achou do Farense quando chegou ao clube?

H - Conhecia pouco o futebol português. Era Benfica, pelo Eusébio, Porto e Sporting. Depois gostei porque percebi que era muito técnico, como o marroquino, mas bem mais profissional. Mas no Farense encontrei um grupo único, unido, com um treinador cheio de energia e garra como o Paco Fortes. O clube foi crescendo, foi-se tornando mais forte, até à melhor época de sempre.

QFS – No Maiorca também fez história...

H – Sim, o clube nunca tinha sequer chegado às meias-finais da Taça e no meu primeiro ano chegou à final. Perdemos com o Atlético de Madrid do Paulo Futre, que era um grande jogador – no aquecimento, o estádio parou para gritar “Paulo” quando ele entrou. Na antevisão, uma rádio espanhola fez uma entrevista com ele e comigo ao mesmo tempo!



QFS – E em Marrocos nunca o esqueceram?

H - Nunca. Ganhei três títulos de melhor marcador do campeonato, Ligas, taças nacionais, taças árabes... Tudo no WAC.





“Quando o clube acabou até chorei”

QFS – E sobre a sua estadia no Benfica, que tem a dizer?

H – Muita gente diz que foi um fracasso, mas eu não concordo: mal cheguei, comecei logo a marcar golos. Depois sofri uma lesão num joelho, estive cinco meses parado e não é fácil voltar logo em grande depois disso. Depois, com as trocas de treinadores, ficava sempre no banco ou nem isso, e um avançado precisa de jogar para marcar golos! Mas foi um orgulho jogar no Benfica, jogar num clube tão grande não é para qualquer um. E ainda ganhei lá a Taça de Portugal!



QFS – No Farense, chegou a jogar com o seu irmão, Youssef...

H – Sim, fez uma época comigo no Farense. Era mais extremo, jogava pelas alas. Também gostou muito de Portugal, teve filhos aí. Hoje mora no Norte e já é mais português que marroquino!

QFS – A experiência de treinador é para repetir?

H - Sempre disse que queria acabar no Farense. Na última época fui diretor-desportivo, depois o treinador saiu e fiz os últimos três jogos. Depois formámos até um bom grupo, até que a Direcção nos disse que o clube ia acabar. Nunca esperei, eu que tinha estado nos anos mais fortes da equipa, que aquilo um dia ia acontecer. Até chorei. O clube não merecia.


“South Side são impressionantes”

QFS – Desde 1994 para cá, diz-se que muito da força do Farense vem da sua claque, os South Side. Concorda?

H – Sem dúvida. Sempre tive muito boa relação com os South Side, falávamos muito. É uma das melhores claques de Portugal, iam atrás da equipa para todo o lado e continuam a ir, pelo que sei. É impressionante!

QFS – Tem algum recado especial para eles?

H - Um grande abraço. Nunca vou esquecer o apoio deles, que continuem assim a apoiar a equipa, porque foram eles que a puseram no sítio onde ela chegou. Farense sempre! Tenho a certeza que um dia vai voltar à I Liga.

QFS – Fica para sempre com o Farense no coração?

H - Vou sempre gostar do Farense, é o clube que eu amo. Sou mais farense que algumas pessoas que nasceram em Faro. Sempre fui um bom profissional, dei tudo pelo clube e sei que as pessoas sabem isso e gostam de mim. Além disso, nunca poderia esquecer a cidade onde nasceu um dos meus filhos, pois não?




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