“Estou sempre atento ao Farense”
Quantos Farenses somos? - Olá, Hassan. Que é feito de si?
Hassan - Estou há um ano e tal em Marrocos. Voltei a
trabalhar no WAC Casablanca, primeiro como diretor-técnico e agora estou como
adjunto. O nosso objetivo é o título, ainda falta muito campeonato.
QFS – Mas continua atento ao Farense?
H - Sempre. Estou sempre atento aos resultados do
Farense e a Portugal, até porque tenho aí os meus filhos, em Setúbal – um deles
joga no Vitória, está este ano emprestado ao Casa Pia. Fiquei muito contente
com as várias subidas consecutivas, não é fácil subir tantas divisões em tão
pouco tempo.
QFS – Conhece bem o professor Antero. É boa escolha para
assumir agora o comando da equipa?
H – Ui, conheço-o há muitos anos. Está lá há muito
tempo, para já é a escolha certa. Subir está muito difícil, os primeiros já
estão um bocado distantes, mas em termos de permanência o objetivo está
bastante próximo.
QFS - Quem foram os melhores jogadores com quem jogou?
H – No Farense, Hajry, Sérgio Duarte e Rufai. O
Marinescu também era muito bom. Depois, no Benfica, Michel Preud'homme, claro,
João Pinto, Valdo e o Ricardo Gomes.
QFS – E treinadores?
H – Obviamente, o Paco Fortes. Aquela maneira dele de
estar no banco, os gritos, a fúria... Se pudesse entrar em campo e jogar
connosco (risos)... Vivia muito o jogo, dava raça, querer à equipa. Também gostei
do estilo sério do Manuel José, muito frontal, não brincava.
QFS – Continua a falar com colegas dos tempos do Farense?
H - Vou falando com muitos no facebook, ou mesmo por
telefone.
QFS – Em 2010 teve um diferendo com o clube. Está resolvido?
H – Está a ser resolvido aos poucos... Sei que o
presidente Barão ficou chateado comigo, mas não tenho problemas com ninguém e
acho que está a fazer um bom trabalho. Quando pus o processo ao clube, falei
com os dirigentes antes e eles compreenderam a minha situação. Foram muitos
anos a ficar com salários em atraso, e também tenho família, também precisava
de pensar na minha mulher e nos meus filhos. Julgo que as pessoas percebiam a
minha situação.
“O João Pinto dizia-me que o São Luís era o pior sítio para
ir jogar, um inferno!”
QFS – É considerado unanimemente como um dos melhores
jogadores, se não o melhor, da história do clube, além de ser o melhor
marcador. Que sente quando pensa nisso?
H - É um grande orgulho para mim. No ano em que fui o
melhor marcador do campeonato, com 21 golos, foi um grande ano. Chegámos à
Europa, foi uma época histórica, e foi um grande orgulho ganhar na luta com os
avançados dos grandes, que tinham muito mais condições para marcar golos do que
eu. Ver o meu nome ali, como o melhor marcador de 94/95, um jogador do Farense,
é um grande orgulho e algo que ficará para sempre na história do futebol
português. E consegui-o sem penaltys! Era o Portela que marcava, e às vezes o
Hajry.
QFS – Nessa época chegaram a ganhar 4-1 ao Benfica!
H - Foi inesquecível, ganhar 4-1 ao Benfica não é
todos os dias! O São Luís era um inferno, quando cheguei ao Benfica o João Pinto
dizia-me sempre isso: era o pior estádio para ir jogar!
QFS – E na eliminatória com o Lyon, gostava de ter lá
estado?
H – Eu até pedi lá no Benfica para me deixarem ir ao
Farense só jogar esses jogos (risos)! Do que vi, acho que comigo lá seria diferente.
O Farense bateu-se bem, aquele Lyon também ainda não era a equipa que se tornou
depois e acredito que eu lhes podia ter feito golos.
QFS – Que achou do Farense quando chegou ao clube?
H - Conhecia pouco o futebol português. Era Benfica,
pelo Eusébio, Porto e Sporting. Depois gostei porque percebi que era muito
técnico, como o marroquino, mas bem mais profissional. Mas no Farense encontrei
um grupo único, unido, com um treinador cheio de energia e garra como o Paco
Fortes. O clube foi crescendo, foi-se tornando mais forte, até à melhor época
de sempre.
QFS – No Maiorca também fez história...
H – Sim, o clube nunca tinha sequer chegado às
meias-finais da Taça e no meu primeiro ano chegou à final. Perdemos com o
Atlético de Madrid do Paulo Futre, que era um grande jogador – no aquecimento,
o estádio parou para gritar “Paulo” quando ele entrou. Na antevisão, uma rádio
espanhola fez uma entrevista com ele e comigo ao mesmo tempo!
QFS – E em Marrocos nunca o esqueceram?
H - Nunca. Ganhei três títulos de melhor marcador do
campeonato, Ligas, taças nacionais, taças árabes... Tudo no WAC.
“Quando o clube acabou até chorei”
QFS – E sobre a sua estadia no Benfica, que tem a dizer?
H – Muita gente diz que foi um fracasso, mas eu não
concordo: mal cheguei, comecei logo a marcar golos. Depois sofri uma lesão num
joelho, estive cinco meses parado e não é fácil voltar logo em grande depois
disso. Depois, com as trocas de treinadores, ficava sempre no banco ou nem
isso, e um avançado precisa de jogar para marcar golos! Mas foi um orgulho
jogar no Benfica, jogar num clube tão grande não é para qualquer um. E ainda
ganhei lá a Taça de Portugal!
QFS – No Farense, chegou a jogar com o seu irmão,
Youssef...
H – Sim, fez uma época comigo no Farense. Era mais
extremo, jogava pelas alas. Também gostou muito de Portugal, teve filhos aí.
Hoje mora no Norte e já é mais português que marroquino!
QFS – A experiência de treinador é para repetir?
H - Sempre disse que queria acabar no Farense. Na
última época fui diretor-desportivo, depois o treinador saiu e fiz os últimos
três jogos. Depois formámos até um bom grupo, até que a Direcção nos disse que
o clube ia acabar. Nunca esperei, eu que tinha estado nos anos mais fortes da
equipa, que aquilo um dia ia acontecer. Até chorei. O clube não merecia.
“South Side são impressionantes”
QFS – Desde 1994 para cá, diz-se que muito da força do
Farense vem da sua claque, os South Side. Concorda?
H – Sem dúvida. Sempre tive muito boa relação com os
South Side, falávamos muito. É uma das melhores claques de Portugal, iam atrás
da equipa para todo o lado e continuam a ir, pelo que sei. É impressionante!
QFS – Tem algum recado especial para eles?
H - Um grande abraço. Nunca vou esquecer o apoio
deles, que continuem assim a apoiar a equipa, porque foram eles que a puseram
no sítio onde ela chegou. Farense sempre! Tenho a certeza que um dia vai voltar
à I Liga.
QFS – Fica para sempre com o Farense no coração?
H - Vou sempre gostar do Farense, é o clube que eu
amo. Sou mais farense que algumas pessoas que nasceram em Faro. Sempre fui um
bom profissional, dei tudo pelo clube e sei que as pessoas sabem isso e gostam
de mim. Além disso, nunca poderia esquecer a cidade onde nasceu um dos meus
filhos, pois não?
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