Quantos Farenses somos? -
Olá, Luís. Deixou o Farense em 2012. Aos 34 anos, ainda está em actividade ou
já se retirou?
Luís Afonso – Já acabei. Já chega (risos)! O horário já não dava. Sou
professor de educação física e ao mesmo tempo treinador da Dragon Force em
Almancil. E também coordenador de scouting do Porto no Algarve.
QFS – E continua a
acompanhar o percurso do clube?
LA – Este ano não muito, porque
como tenho duas equipas, jogos ao sábado e ao domingo... E também nasceu a
minha filha há quatro meses, por isso não me sobra muito tempo (risos)! Só fui
ver um jogo este ano, foi precisamente em casa com o Louletano na primeira
volta desta segunda fase. Foi um bom jogo, as duas equipas podiam ter ganho.
Felizmente ganhámos nós (risos)!
QFS – E para o jogo deste Domingo,
novamente com o Louletano: acredita na vitória do Farense?
LA – Pelo que vi nesse jogo, sim, acho que o Farense tem boas
hipóteses de ganhar. O Ivo (Soares, antigo jogador do Farense e actual
treinador do Louletano) organiza muito bem as suas equipas, eles jogam num
bloco mais baixo, mais organizados defensivamente. Mas o Farense tem jogadores
muito bons tecnicamente, o Neca, o Livramento, o Tavinho… Tem tudo para ganhar.
QFS – Como viu a queda da
II Liga? Estava à espera?
LA – Não, não estava. A II Liga é muito complicada, muitos jogos,
muitas deslocações ao Norte… Eu queria era que o Farense subisse à I Liga! Tem
todas as condições para estar lá. O que vamos vendo por aí, equipas com 500,
600 pessoas nos estádios na I Liga… O Farense é um clube com adeptos, que vão
ao estádio apoiar a equipa. Para já, é acreditar que vamos conseguir subir este
ano. Não está assim tão fácil, mas tudo é possível. Não podemos facilitar em
casa. Vamos ter quatro jogos no São Luís, mais este no Estádio do Algarve… com
os nossos adeptos, vamos acreditar que podemos conseguir.
“Fiz o passe para o Quaresma no golo que
nos deu o Europeu de sub-16”
QFS – O Luís é natural de
Faro e foi no Farense que iniciou o seu percurso ainda em criança. Mas depois
foi para o Porto…
LA – Joguei no Farense até aos iniciados, depois na passagem para os
juvenis fui para o Porto. Na altura fazia-se um torneio tipo taça do Algarve,
onde participavam várias selecções. Eu estava na selecção do Algarve, fiz um
bom torneio e pronto. Fui com o Hugo Luz, que depois também jogou no Farense, o
Maniche, que era do Louletano, e o António Costa, do Lusitano.
QFS – Acabou por atingir
um sucesso enorme nas selecções jovens: campeão europeu de sub-16 e vencedor do
Torneio de Toulon, juntamente com
jogadores que vieram a ser grandes nomes do futebol português!
LA – Era suplente do Custódio,
do Raul Meireles, do Hugo Viana… Não era muito fácil. Eles jogavam e eu
aplaudia (risos)! Mas entrei na final do Europeu de sub-16 e fiz o passe para o
golo da vitória, do Quaresma (2-1 à República Checa, após prolongamento). No
torneio de Toulon, o Cristiano Ronaldo já estava nessa equipa, apesar de ser
mais novo. Danny, Hugo Almeida, Miguel Garcia, com quem ainda hoje falo bem…
QFS – E no Porto, ainda
vai até à equipa B, onde faz duas épocas. Era opção regular?
LA – Sim, joguei bastante.
Cheguei a treinar com os seniores, na altura treinados pelo Mourinho. Uma
equipa fraquita (risos)!
QFS – E porque não continuou
depois a ligação?
LA – Terminou o contrato e não
me propuseram a renovação. Talvez tenham achado que já não ia evoluir de forma
a poder um dia jogar na equipa principal, não sei.
QFS – Inicia depois um
percurso por equipas do Norte na II B, até voltar para o Algarve (Imortal, em
2006/07). Nunca conseguiu actuar nos escalões profissionais…
LA – Sim, é verdade. Não voltou a haver maneira de voltar a
profissional. Nos Dragões Sandinenses, joguei pouco porque tínhamos uma grande
equipa, com muitos jogadores com experiência de I Liga – o médio titular na
minha posição era o Figueiredo, que tinha jogado no Santa Clara e depois foi ao
Mundial com Angola em 2006. Ficámos em 2º. E no Tourizense, também tínhamos boa
equipa e aí já joguei mais, mas também não deu para subir.
QFS – E eis que se dá o
regresso ao Farense em 2008/09, com 25 anos…
LA – Já estava aqui pelo Algarve, estava a jogar no Campinense, era
treinado pelo Ivo (Soares). Conhecia o presidente (António Barão), ele
convidou-me para ir para o Farense, que na altura estava prestes a subir à III
Divisão, e eu disse “Ok, para o ano estou aí!” A meio da época foram logo dois
ou três: o Eduardo Barão, o Edinho… Mas eu não quis deixar o Campinense a meio
da época, porque foram eles que me ajudaram quando não tinha clube. E o Farense
ia subir de qualquer maneira, não precisava de mim para isso (risos).
QFS – Era um objectivo
seu, voltar ao clube da sua cidade e onde se formou?
QFS – Esse era um Farense
renascido, depois de ter passado por uma descida ao abismo. Acompanhou, ainda
que ao longe, esse período? E nessa altura acreditava que o clube se
conseguisse voltar a reerguer?
LA – Sinceramente, não acreditava. Era uma coisa… estar lá em cima no
Norte, querer ver os resultados do meu clube e ver “O quê? O meu clube não está
a competir?” Não era fácil. Mas sabia que alguém tinha de pegar no clube e
levá-lo para a frente. E nisso, o presidente Barão tem o mérito todo.
QFS – O objectivo da
subida acaba por falhar na primeira época, mas na segunda foi conseguido!
LA – Sim, naquele jogo que ninguém esquece com o Cova da Piedade no
São Luís, na última jornada. O estádio estava cheio, praí 15 mil pessoas! Foi
uma loucura.
QFS – E depois, em
2010/11, nova descida no último jogo, também em casa (1-2 com o Atlético de
Reguengos)…
LA – Foi uma surpresa enorme, ninguém estava à espera. Já tínhamos
feito uma boa recuperação, só precisávamos do empate naquele jogo. Ao intervalo
estávamos a ganhar, depois acho que até ficámos com mais um... e de repente
sofremos o segundo golo (79 minutos) e descemos… Foi uma imagem difícil,
jogadores a chorar no relvado, de cabeça em baixo…
QFS – O treinador era João
de Deus, que entretanto tem passado pela I Liga, está agora no Nacional…
LA – É um treinador muito bom. Organizado, conhece bem os
adversários, passa muito bem a mensagem. Mas aconteceram muitas coisas nessa
época, o falecimento do mister (Joaquim) Sequeira… muita coisa pelo meio.
QFS – Mas só demorou mais
um ano até nova subida, essa um passeio!
LA – Tínhamos uma equipa muito forte para a III Divisão. Pituca,
Caniggia, Chiquinho, Igor, Sapo, Teixeira, Eugénio…
QFS – E de repente, quando
poderia voltar à II B, não fica no plantel da nova época. Porquê?
LA – Pois… Até eu gostava de saber! Fiz a pré-época toda a titular,
jogámos com o Olympiacos do Leonardo Jardim, fomos fazer um amigável com o
Vitória de Setúbal, depois um jogo com o Sporting B… Joguei sempre de início, e
depois já a meio de Agosto o treinador (Bruno Ribeiro) chega ao pé de mim e diz
“Luís, estás dispensado”. Eu nem disse nada, fiquei sem reacção… E pronto,
acabou assim o meu percurso pelo Farense.
QFS – E é aí que aparece o
Louletano.
LA – Quando caí em mim, pensei “Onde é que vou jogar agora?” Então, o
Caniggia, que estava no Louletano, disse-me “Vem já para cá, estamos a precisar
de jogadores”. E lá fui. Fomos nós e o Barão. Mas não fiquei lá muito tempo,
porque na altura estava a tirar uma formação no Farense e não podia ir aos
treinos todos. Eles disseram “ou a formação ou o Louletano” e eu disse “então
xau!” Não me queixo deles em nada, mas eu estava a fazer uma coisa que gostava
e que me ia ser importante para o futuro e optei por isso. De qualquer forma,
já não tinha a mesma vontade para jogar. Ainda acabei essa época no
Quarteirense, mas já tinha na ideia deixar de jogar. Mas no ano a seguir fui
para o Culatrense e aí comecei a ter novamente o gosto. As pessoas da ilha
sentem muito aquilo, dão tudo, sentem o clube, vão lá apoiar. Joguei lá três
épocas e gostei muito.
“Jogar no São Luís era um sonho de infância”
QFS – Representou o Farense
durante quatro temporadas: três na III Divisão e uma na II B. Qual foi a
melhor, individual e/ou colectivamente?
LA – Talvez a do mister Balela
(2011/12), pela série de vitórias que tivemos. Chegámos a ser uma das equipas
em Portugal com maior número de jogos sempre a ganhar. E depois o tal jogo com
o Cova da Piedade. Esses foram os melhores momentos.
QFS – Quais as melhores
recordações que guarda do Farense?
LA – Tanta coisa… Foram anos
muito bons. Jogar naquele estádio, com os adeptos, a claque em peso… era um
sonho de infância. O pessoal a fazer pressão sobre os árbitros, a ir para cima
do fiscal de linha (risos)… tínhamos sempre boas casas. E cheguei a ser
sub-capitão. Entrar naquele estádio com a braçadeira… É uma coisa diferente,
não dá para explicar.
QFS – Para quem nunca o
viu jogar, como se definiria enquanto jogador?
LA – Era médio, gostava de ter
a bola, pensava o jogo. Era mais de organização, mais um 8. Bom tecnicamente,
muito bom no passe. Golos nem por isso, marquei muito poucos. Era gozado por
isso (risos)! Lembro-me de um no estádio do Algarve… Mas pouco mais. Mas dava
muitos a marcar (risos)!
QFS - Já falámos dos grandes craques do futebol português com quem jogou no Porto e na selecção. E no Farense, quais foram os
melhores jogadores com quem jogou?
LA – Caniggia e Pituca.
QFS – E treinadores? Quem
mais o marcou?
LA– O Vítor Pereira. Era adjunto dos juniores do Porto, o principal
era o João Pinto, mas ele já estava muito à frente. Pela forma como vivia o
clube, ficava doente quando perdíamos, ficava eufórico quando ganhávamos. Como
falava com os jogadores… Era uma pessoa 5 estrelas. E desde então tem vindo a
mostrar o seu valor, principalmente no Porto: em dois anos, foi duas vezes
campeão só com uma derrota… E no Farense, talvez o mister Balela. Percebe muito
de futebol, os treinos com ele são sempre a mil à hora! João de Deus pelos
métodos e organização. E o Farense agora tem lá uma pessoa, o Rui Duarte, que
me dizem poder vir a ser um grande treinador. Toda a gente que conheço e já
trabalhou com ele gostou muito.
QFS – O Farense é o clube
do seu coração?
LA – Sim, desde sempre. Está
sempre presente para mim, dou tudo por aquela camisola.
QFS – Ainda mantém
contacto com os colegas dos tempos no clube?
LA – Sim, estou com alguns regularmente. Ainda há dias estive com o
Bruno, o grandão. Por vezes juntamo-nos, fazemos almoços ou jantares e o
Farense está sempre nas conversas, claro. Lembramo-nos das viagens, dos jogos,
das coisas de balneário. Como era jogar naquele estádio, com aquela gente toda
a apoiar…
QFS – Para terminar,
pedimos que deixe uma mensagem para os adeptos do Farense.
Muito orgulho neste farense!!! Obrigada pelo teu contributo ao nosso Farense
ResponderEliminarGrande jogador! Grande farense!!
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarGrande Mister!!!! Como jogador não o conheci mas como treinador é fantástico.... Obrigada ��
ResponderEliminarOrgulho! Muito bom jogador, humilde,..tem tudo para ser um grande treinador!
ResponderEliminarOrgulho! Muito bom jogador, humilde,..tem tudo para ser um grande treinador!
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