Farense capa

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quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Homenagem a Mané



Mané
(Manoel Ferreira Lins, 16/01/1964, Junquierópolis, Brasil)
Extremo-esquerdo

84-Palmeiras--------I(Brasil)
85-América S.P.-----I(Brasil)
86-Santo André S.P.-I(Brasil)
87-Santo André S.P.-I(Brasil)
88-São José S.P.----I(Brasil)
88/89-Farense-------I
89/90-Farense-------II
90/91-Farense-------I
91/92-Farense-------I
92/93-Gil Vicente---I
93/94-Farense-------I
93/94-Louletano-----II H.
94/95-Farense-------I
95/96-Paredes-------III
96/97-Tourizense----III
97/98-Alcains-------II B
98/99-Padernense----III
99/00-Padernense----Distritais
00/01-Padernense----III
01/02-Padernense----II B
02/03-Padernense----III
03/04-Almancilense--III
04/05-São Marcos----Distritais
05/06-Padernense----Distritais


Chegado a Faro em 1988, Manuel Ferreira Lins, conhecido como Mané, viria a tornar-se num dos mais populares jogadores do Farense dos anos 80 e 90. O menino natural de Junqueirópolis, São Paulo (Brasil) acabaria mesmo por ficar na História do nosso clube, ao apontar, no Restelo contra o Belenenses, o golo que apurou o Farense para a final da Taça de Portugal em 1989/90, a única do seu historial.

Extremo-esquerdo rápido e tecnicista, representou o Farense durante seis temporadas, tendo passado pelo meio pelo Gil Vicente, o único clube por que jogou na I Divisão sem ser o nosso. Mais tarde, ainda fez parte das melhores equipas da história do Padernense, também no Algarve, e passou pelo São Marcos, onde se reencontrou com Pitico, o seu amigo de sempre. Viria a falecer a 10 de Novembro de 2008, vítima de um acidente de viação. Ao "Quantos Farenses somos?", Pitico recorda-o.



"Quem trouxe o Mané para Portugal fui eu. Quando vim, o presidente Barata queria um extremo-esquerdo. O Mané jogava comigo no São José e já era mais que um amigo para mim, é como se fosse um irmão. O avançado dessa equipa era o Ricardo, que também veio para o Farense. Viemos os três.

O Mané era muito evoluído tecnicamente, eu era mais em velocidade. Mas também era rápido, muito habilidoso, muito forte no 1x1. Quando chegámos, era início da época cá [1988/89] mas já tínhamos 50 ou 60 jogos feitos no Brasil. Não tivemos férias, viemos para cá e eu adaptei-me bem, mas o Mané teve algumas dificuldades. Fez alguns jogos, mas jogou sobretudo na equipa de reservas. Ainda por cima a equipa desceu nesse ano, o que complicou tudo ainda mais.

Na segunda época [1989/90, na II Divisão], o Mané já jogou mais e fez golos importantíssimos, um dos quais, claro, aquele fantástico com o Belenenses. Foi uma época muito boa, principalmente para ele. Foi uma das peças fundamentais na caminhada até à final da Taça.



Era uma equipa muito unida, um bom grupo. Essa foi uma das melhores épocas, e tínhamos jogadores fantásticos, como o Ademar, o Formosinho, jogadores com experiência, e foi isso que segurou o grupo.



Mané era comparado a Garrincha? É verdade (risos), ele também tinha as pernas tortas, era magrinho e no 1x1 era muito complicado pará-lo. Fazia fintas que toda a gente ficava a perguntar 'como é possível?' E a bater livres? Era meio golo! Quando ele foi jogar comigo para o São Marcos, que era campo pelado, todos diziam que nunca tinham visto ali um jogador com aquela técnica. Tinha uma moral no Alentejo!

Foi dos melhores jogadores com quem joguei. Um dos mais evoluídos que jogou no Farense. Tinha aquela finta curta tipo Messi, era fantástico. Ele, o Hajry e o Ademar. No Brasil eu via o Mané fazer coisas... ficava de boca aberta.




Porque jogou pouco nos últimos anos no Farense? Foi opção do treinador. Sempre foi bom profissional, trabalhava muito e se não fazia mais, era porque não lhe deixavam. A ele e a mim! Nós tivemos muitos problemas com preparadores físicos, eles impediam-nos de fazer mais do que aquilo que eles queriam. No Brasil, ficávamos sempre a trabalhar depois dos treinos. Nós fomos bons jogadores, mas podíamos ter sido excelentes se tivéssemos saído mais cedo do Farense. Acabámos por não evoluir mais e com isso, relaxámos um bocado em relação ao trabalho e acho que o Mané se ressentiu mais disso.

Uma vez, o preparador físico mandou-nos fazer um exercício de velocidade. Depois parou o exercício todo chateado porque nós tínhamos dado 100 por cento: ele só queria 60 ou 70! Nós não percebíamos isso, se era para correr, era para correr! Mas o Mané não dizia nada, eu é que falava!

Eu sempre disse que o Mané não tinha feitio para ser jogador de futebol. Ele era muito puro, só queria jogar à bola, não tinha maldade nenhuma. Toda a gente gostava dele, não tinha inimigos. Se alguém me viesse dizer 'o Mané falou mal de ti', eu dizia logo que era mentira.

Nos primeiros tempos, ele ficou a viver na minha casa. Às vezes, eu deixava-o conduzir o meu carro e no outro dia, vinham-me dizer que me tinham visto a trair a minha mulher com outra no carro, mas era ele! Eu só lhe dizia 'tu aprontas e depois sobra para mim' (risos), mas a minha esposa já sabia, ria-se e dizia 'Mané, atenção!' 

Mantive sempre contacto com ele, ele ficou a viver em Faro, estávamos sempre juntos. Ele era o padrinho da minha filha, também casou aqui. Teve um café na baixa e depois também trabalhou como entregador de bebidas. Não parava de jeito nenhum.

Saudades? Tenho muitas. Os meus filhos adoravam-no, era como se fosse da nossa família. Muitas vezes vemos as fotografias com ele...

O Farense nunca lhe fez uma homenagem. Era bom que um dia acontecesse...

Fazemos nossas as palavras do Pitico e daqui pedimos à Direcção do Farense para pensar no assunto e fazer uma homenagem condigna ao nosso Mané. Se alguém o merecia, era ele.

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