"O
Farense é um clube espectacular, tem de estar na I Liga”
Quantos
Farenses somos? - Olá, Caras. Antes de mais, perguntamos-lhe o
porquê dessa alcunha!
Caras
– A alcunha já vem desde puto, porque eu chamo-me
Carlos Alberto Rodrigues Assis Carvalho. Então, as pessoas juntaram
a primeira letra de cada um dos meus nomes e ficou Caras desde então.
QFS
– E, aos 31 anos, ainda está em actividade, ou já acabou?
C
– Já acabei. Tenho dois filhos, que me ocupam imenso tempo. Mas
ainda espero voltar a jogar, quem sabe já esta época, num clube
qualquer aqui do Algarve. Só para matar o bichinho (risos)!
QFS
– E tem acompanhado o percurso do Farense desde que saiu do clube,
em 2010?
C
– Sim, vou acompanhando. De vez em quando vou ver
alguns jogos...
QFS
– Do que tem visto, acredita num regresso à I Liga a curto prazo,
ou ainda é cedo para pensar nisso?
C
– Ainda é cedo. Há clubes mais preparados na II Liga,
especialmente a nível financeiro. O Chaves, até o Portimonense...
Ainda falta alguma coisa no Farense para poder pensar em tentar
voltar à I Liga. A médio prazo, sim, claro que sim. É um clube
espectacular, tem de estar na I Liga.
”Os
gajos de Faro são mesmo loucos pelo Farense”
QFS
– O Caras chegou a Faro com 22 anos, em 2006/07, no regresso do
Farense à competição. Como se deu essa possibilidade?
C
– O Barão, que tinha sido meu treinador nas camadas jovens (no Internacional de Almancil), telefonou-me a
explicar a situação e a convidar-me para ir para o Farense. Assim
que ouvi o nome do clube, nem pensei duas vezes. Aceitei logo.
QFS
– Já tinha jogado na II Divisão B, pelo Olhanense, e na III
Divisão, pelo Imortal e pelo Beira-Mar de Monte Gordo. Porque
aceitou um convite de uma equipa que ia competir na II Divisão
Distrital?
C
– Foi só por ser o Farense. Não podia desperdiçar a
oportunidade de jogar num clube assim.
QFS
– Quais eram as suas expectativas ao assinar pelo Farense?
C
– Sabia
que tínhamos potencial para subir logo. E aqueles adeptos... Nunca
vi uma coisa assim em nenhum clube onde joguei. Os gajos de Faro são
mesmo loucos pelo Farense! Havia jogos das distritais onde tínhamos
2000 pessoas na bancada, pareciam jogos de I Liga! Era uma loucura!
QFS
– Nos anos anteriores, estava certamente a par do que tinha
acontecido ao Farense. Acreditava que o clube se pudesse reerguer e
voltar ao patamar onde está hoje?
C
– Sinceramente? Não, não acreditava. Pensei que o
Farense não ia voltar a abrir as portas. Foi uma situação muito
complicada – um pouco à imagem do que está a acontecer agora com
o Olhanense...
QFS
– É verdade, o Caras é natural de Olhão e formado no Olhanense.
Isso nunca lhe causou dificuldades ao jogar no Farense?
C
– Não, nada disso. Essas coisas passam-me ao lado. Até era ao
contrário: em Olhão é que não me podiam ver. Em Faro sempre fui
muito bem tratado.
QFS
– Como foi jogar nas divisões distritais? Qual o primeiro impacto
quando começou a jogar na II Distrital pelo Farense?
C
– Até me habituar, foi um bocado difícil, admito. Pelas poucas
pessoas a ver os jogos, pelos “estádios” - mesmo assim com
aspas, porque chamar estádios a alguns... O de Santa Luzia (Tavira)
por acaso era o único pelado... O melhor era mesmo o nosso.
Jogávamos no Estádio do Algarve, na altura, e todos os adversários
ficavam deslumbrados, tiravam fotos...
QFS
– Na sua carreira, o Caras subiu de divisão seis vezes! Três no
Farense, uma no Olhanense, outra no Imortal e outra no Quarteirense!
É um talismã?
C
– Não sei. Tive sorte (risos).
QFS
– Era uma promessa da formação do Olhanense. Porque não ficou no
clube após a subida à II Liga em 2003/04?
C
– Era muito novo e acharam que precisava de rodar. Por isso
emprestaram-me ao Imortal e depois ao Beira-Mar. Mas depois saiu o
Paulo Sérgio (treinador), que gostava de mim, e quem veio a seguir
já não me queria. Por isso acabou aí a minha ligação ao
Olhanense. Fiquei livre e foi então que surgiu o Farense.
”Podia
ter jogado na I Liga, há lá com cada sapateiro...”
QFS
– Representou o Farense durante quatro temporadas: uma na II
Divisão Distrital, outra na I e duas na III Nacional. Qual foi a
melhor, individual e/ou colectivamente?
C
– Colectivamente,
gostei de todas. Individualmente, talvez o segundo ano (2007/08, na I
Distrital). Foi muito bom para mim, porque joguei sempre,
practicamente. Na primeira época ainda andava um bocado à deriva, a
adaptação não foi muito fácil, mas depois tudo melhorou.
QFS
– Quais as melhores recordações que guarda do Farense?
C
– Tudo. Mas principalmente os adeptos. Também vou
lembrar sempre as festas das subidas, claro. No Estádio do Algarve,
foram sempre muito boas. As festas são sempre boas (risos)! Ah, e a
de 2009/10, no São Luís, claro (subida à II B). Também foi muito
boa, estava muita gente, fizemos uma festa enorme. Nunca vi adeptos
como estes.
QFS
– Qual a posição onde foi mais utilizado no Farense?
C
– Joguei
quase sempre como defesa-esquerdo. Às vezes direito, e também no
meio-campo, à esquerda ou à direita.
QFS
– Porque saiu no fim de 2009/10, com 26 anos, à beira de voltar a
jogar na II B?
C
– No fim da época tudo indicava que ia ficar, mas depois o
treinador da altura (Joaquim Mendes) já não me quis. Foi decisão
técnica.
QFS
– Depois do Farense, representou Quarteirense, Culatrense e 11
Esperanças. Fez a carreira toda no Algarve, nunca pensou ir para
fora da região ou mesmo do país?
C
– Não, nunca tive esse pensamento. Houve uma vez que
estive perto de ir para o Operário, dos Açores, o Olhanense
queria-me emprestar a essa equipa, mas depois fiquei no Beira-Mar.
QFS
– Para quem nunca o viu jogar, como se descreveria enquanto
jogador?
C
– Tinha técnica, era um jogador rápido. Gostava mais
de atacar, ir à linha, cruzar para a área. A minha arma era o 1
para 1. A defender era mais complicado... E de vez em quando marcava
uns golitos. A médio, principalmente. A época onde marquei mais foi
a de 2008/09, com o Barão a treinador. Ficava sempre no banco, mas
depois entrava e marcava!
QFS
– Tem mágoa por nunca ter jogado a nível profissional? Acha que
tinha qualidade para isso?
C
– Sim, acho que sim. Há com cada sapateiro a jogar na I Liga
(risos)! Bem trabalhado, tinha potencial para jogar lá, não tenho
dúvidas. Mas nunca se proporcionou, se calhar porque nunca tive
empresário...
“Nunca
pensei poder vir a jogar no Farense”
QFS
– No Farense, foi treinado por alguns nomes marcantes do futebol
português enquanto jogadores, como Carlos Costa, Rui Esteves, Edinho
ou Ivo Soares... Isso dava mais motivação aos jogadores?
C
– Sim,
era uma motivação extra, sem dúvida. Falavam da experiência
deles, do que tínhamos de fazer para um dia poder pensar em chegar a
esse nível...
QFS
– Em entrevista à nossa página, o Carlos Costa falou com muito
orgulho dessa sua experiência enquanto treinador do Farense nas
distritais, dizendo que foi engraçado pegar nalguns jogadores que se
calhar nunca tinham imaginado poder vir a jogar no Farense... O Caras
foi um desses casos?
C
– Sim, é verdade. Nunca pensei poder vir a jogar no
Farense. Foi uma motivação extra para mim, era um clube que sempre
vi jogar na televisão, jogos grandes, com equipas grandes... Era o
clube do Algarve que mais gostava de ver e onde mais gostei de jogar.
QFS
– Pode então dizer-se que ficou com o Farense no coração? Acabou
por ser o clube onde passou mais anos enquanto sénior!
C
– Sim, onde passei mais anos e onde fui mais feliz.
Está no coração, sem dúvida.
QFS
- Quem foram os melhores jogadores com quem jogou?
C
– Ainda joguei com vários muito bons. O Amaral, que
jogou no Sporting e no Benfica; o Edinho, que no Farense com 40 anos
parecia que tinha 20! Nos distritais era mel para ele (risos)! Foi o
melhor ponta de lança com quem joguei. O Rui Loja, que a gente dizia
que qualquer bola parada com ele era sempre golo; o Livramento, que
naquela época de Olhanense (2003/04) jogava muito à bola, partia
tudo; o Miguel Teixeira, o grande capitão do Olhanense; só no
Farense, o Brasa, o Pintassilgo, o Caniggia... O Idalécio, com quem
joguei no Farense e no Quarteirense... foram muitos.
QFS
– E treinadores? Quem mais o marcou?
C
– Pela maneira de trabalhar, o Paulo Sérgio
(Olhanense), o Rui Gorriz (Imortal) e o Portela, no Farense.
QFS
– Quer deixar uma mensagem para os adeptos do Farense?
C
– Que
continuem assim, acreditem no projecto, porque mais
tarde vai dar frutos.