“Só quem jogou no Farense sabe o que
se sente ali”
Quantos Farenses somos? - Olá,
Edinho. Que é feito de si? Ainda está ligado ao futebol?
Edinho – Este ano não estou,
estive nas últimas épocas nas camadas jovens do Olhanense, subi a
equipa de juvenis e a de juniores para a I Divisão com o Hélder
[Rocha]. Agora estou à espera de novas propostas.
QFS – E continua a seguir o
percurso do Farense?
E – Sempre. Tenho o meu filho
mais novo nos juniores do Farense e sempre que posso vou ao S. Luís
ver os jogos. Deixei lá muitos amigos e sou sempre muito acarinhado.
QFS – Como classifica a temporada
do clube?
E – Está dentro do que eu
esperava. E, mesmo sabendo que não há “ses” no futebol, penso
que com um pouco mais de sorte o Farense poderia neste momento estar
a lutar pela subida. Teve alguns problemas no início da época,
depois mudou de treinador e, como se costuma dizer, acabou por perder
o comboio. Mas gosto de ver o Farense a jogar, é uma equipa
aguerrida, conheço alguns jogadores, joguei com alguns até, o
presidente, os dirigentes. É uma equipa com a marca de Faro.
QFS – Acredita num regresso à I
Liga num futuro próximo?
E – Quem está à frente do
clube vai apostar fortemente nisso. O Farense já tem uma estrutura
forte, que ainda tem de melhorar aqui e ali, mas isso é normal num
clube que passou pelo que o Farense passou. Os dirigentes sabem o que
têm de fazer, e prevejo uma luta forte e engraçada para a próxima
época com, ao que tudo indica, três clubes do Algarve a lutar pela
subida, se o Olhanense descer e o Portimonense não subir.
QFS – Chegou ao Farense já com 41
anos!
E – São coisas do futebol.
Mas quando os jogadores são profissionais e marcam as passagens
pelos vários clubes pela positiva, não há idades. Eu estava bem no
Campinense nessa época [2007/08], na III Divisão, a fazer um
campeonato espectacular, já tinha uns nove golos e era o melhor
marcador. Tínhamos uma boa equipa, mas o presidente Barão insistiu
muito comigo para ir para o Farense, explicou-me o projecto, que só
passava pela subida aos nacionais, e que precisava de mim para marcar
golos. Como sou ambicioso, pensei “vamos embora, vamos fazer uma
gracinha”!
QFS – E cumpriu a sua parte.
E – É verdade. Não sei
quantos golos marquei, mas foram mais de 10 tranquilo [de facto,
foram 14]! Sempre a titular. Ainda fui a tempo. Cumpri os objetivos a
que me propus, sempre apoiado por aquela claque magnífica. Em todo o
lado onde íamos jogar, era mais gente nossa que da casa. E nos
distritais, atenção! Para eles, não há chuva, não há sol: vão
a toda a parte! Joguei em 10 clubes em Portugal, cada um com a sua
história e não vou comparar as dimensões, mas só quem passou pelo
Farense, quem jogou lá, é que sabe o que se sente.
QFS – Nunca é tarde para
aprender?
E – Nunca. Às vezes os meus
colegas mais novos gozavam comigo nos treinos, porque eu estava
sempre lá à frente e queria ouvir tudo. Chamavam-me velhote, diziam
para sair dali (risos). Mas uma pessoa nunca sabe tudo. Para
conseguir alguma coisa na vida, temos de ter esta postura.
“A Taça UEFA foi o ponto mais alto
da minha carreira”
QFS – O Farense foi o seu primeiro
clube em Portugal, chegou cá em 90/91, mas não chegou a jogar. Que
aconteceu?
E – Eu vim do Brasil directo
para o Farense, só que na altura havia limite de estrangeiros e o
clube já tinha muitos. Ainda joguei um jogo para uma Taça qualquer,
e nesse jogo estava lá um director do Olhanense, que me viu e gostou
de mim. Quando acabou o jogo, chamou-me e perguntou se eu queria ir
para o Olhanense. Aceitei, o que eu queria era jogar.
QFS – Aí já correu bem...
E – Subi de divisão, da II B
para a II Liga. Como subi depois no Portimonense, também da II B
para a II, e mais tarde outra vez no Olhanense e depois no Farense.
No Olhanense, fui um dos melhores marcadores da II B nessa época [19
golos] e o melhor em 2003/04, já com 36 anos [22 golos]. No Vizela também fui uma vez, na II B [33 golos em 31 jogos ], e na II
Liga no Portimonense [93/94, 16
golos].
QFS – Surge então o Chaves e a I
Liga.
E – Onde fui o quinto melhor
marcador do campeonato [14 golos].
QFS – Daí vai para o Sporting,
mas não chega a fazer qualquer jogo lá...
E – Foi o presidente Sousa
Cintra que me contratou, mas quando cheguei lá vi que havia muitos
avançados. Percebi logo que não ia jogar. Entretanto apareceu o
interesse do Guimarães, que me queria a mim e ao Capucho para lutar
pela qualificação para a Taça UEFA. Aceitei logo – o Sporting
acabou por tirar de lá o Pedro Barbosa e o Pedro Martins. No
primeiro ano no clube, ganhei logo a Bota de Bronze [terceiro melhor
marcador do campeonato, com 15 golos].
QFS – E jogou na Taça UEFA.
E – Sim, foi o ponto mais alto
da minha carreira. Jogar no Camp Nou, com o Barcelona, com o Parma,
com o Anderlecht. E marquei ao Standard de Liège.
QFS – Pelas pesquisas que fizemos
para esta entrevista, o Edinho ainda hoje é muito acarinhado em
Guimarães!
E – Sempre que lá vou, as
pessoas vêm ter comigo, batem-me no ombro, saúdam-me sempre. Ainda
há uns tempos fui ao Norte com a selecção, acompanhar o meu filho,
e muita gente me veio cumprimentar. Adoro o Algarve, ainda hoje vivo
em Olhão, porque a minha mulher é de lá, mas joguei 8 anos no
Norte e também gosto muito de lá estar.
QFS – Depois foi para Inglaterra,
passou pela Escócia, regressou ao Algarve e ao Norte e ainda passou
pelo Alentejo e pela Madeira! Jogou em todas as divisões do futebol
nacional.
E – Sim, conheci todas. Mas na
altura era diferente, havia menos divisões. Hoje há muitas séries,
o que faz com que os clubes grandes não se interessem tanto pelos
campeonatos das divisões mais baixas. Há lá boas equipas e bons
jogadores, mas acabam por passar despercebidos por haver tanta equipa
e tanta série.
“O apoio do público no S. Luís
consegue transformar um jogador”
QFS – Os seus momentos áureos
coincidiram também com os momentos áureos do Farense. Foi
acompanhando a situação por que o clube foi passando?
E – Seguia sempre, porque o
Farense foi o meu primeiro clube em Portugal e sempre acompanhei. Foi
por coisas de empresários, loucuras grandes em termos financeiros.
Mas o Farense nesses anos tinha uma equipa espectacular, quem lá ia
jogar já sabia que era complicado. Comparo o campo aos estádios
ingleses: há um grande fanatismo, o público em cima do campo a
gritar e a apoiar, isso dá um balanço grande aos jogadores. Se um
jogador estiver mais em baixo, recebe aquele apoio e consegue
transformar-se. Ninguém passa a ser um Messi ou um Cristiano
Ronaldo, claro (risos), mas é um apoio muito importante em termos
psicológicos.
QFS – E quando regressou, no
início de 2008, acreditou que era possível o clube estar hoje onde
está?
E – Acreditei sempre, porque
quem joga ali e vive o clube por dentro sabe bem do que é possível
acontecer ali. Essa época foi o ponto de viragem.
QFS – Já anteriormente falou do
apoio dos adeptos. Como o descreve na época em que jogou no clube,
2007/08?
E – Quando cheguei, jogávamos
no Estádio do Algarve. As pessoas iam lá na mesma, mas queríamos
todos era jogar no S. Luís, porque sabíamos que teria muito mais
gente. Algumas pessoas, como as mais velhas, não podiam ir ao
Estádio do Algarve; se fosse dentro da cidade já iam. No último
jogo, que foi no Estádio do Algarve, estavam lá 1500, 1700 pessoas.
Isto na distrital! Fora, levávamos 700, 800 pessoas. O estádio era
todo nosso, fosse onde fosse!
QFS – Guarda, portanto, muito boas
recordações da sua passagem pelo Farense.
QFS – É verdade, em 2009/10
passou a ser o treinador principal.
E – Primeiro fui adjunto do
Barão, o actual presidente. Depois dessa época acabar [2007/08]
ainda queria jogar mais, mas ele convenceu-me, disse que precisava de
mim a ajudá-lo como adjunto. Acabei por aceitar: assim acabei em
grande, campeão e melhor marcador! Depois, na época seguinte
convidou-me para treinador e aceitei.
QFS – Mas a experiência não
durou muito tempo...
E – As coisas não estavam a
correr como o Barão pretendia. Em oito jogos, consegui seis
vitórias, um empate e uma derrota. Estávamos na luta, mas ele achou
que era preciso algo mais e concordámos com a minha saída. Mas é
futebol, saí sem problemas nenhuns com ninguém.
“O meu filho mais novo já bebe o
espírito do clube há três anos”
QFS - Quem foram os melhores
jogadores com quem jogou?
E – Joguei com tantos muito
bons, internacionais e outros que não o chegaram a ser mas que
tinham valor para isso. Prefiro não destacar nenhum em especial.
QFS – E treinadores?
E – A mesma coisa. Tive
muitos, a maioria marcou-me pela positiva, mas mesmo os que foram
menos bons ensinaram-me alguma coisa, neste caso a não fazer igual.
QFS – O seu filho, Edinho Júnior,
também é avançado e está agora nos Estados Unidos. Gostava de o
ver um dia com a camisola do Farense?
E – Agora está lá, está
contente e a jogar. A equipa dele, o Harrisburg City Islanders, é a
equipa B do Philadelphia Union, que está na MLS [a I Liga dos
Estados Unidos], por isso ele tem perspectivas de poder jogar lá, o
objectivo principal é esse. Ele é profissional, mas claro que
gostaria de o ver um dia no Farense. Ia sentir o que é jogar naquele
clube. O mais novo já lá está há três anos, já vai bebendo o
espírito do clube! (risos)
QFS – Que mensagem deixa aos
adeptos do Farense?
Sem comentários:
Enviar um comentário