Farense capa

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quarta-feira, 16 de abril de 2014

Edinho



“Só quem jogou no Farense sabe o que se sente ali”

Quantos Farenses somos? - Olá, Edinho. Que é feito de si? Ainda está ligado ao futebol?

Edinho – Este ano não estou, estive nas últimas épocas nas camadas jovens do Olhanense, subi a equipa de juvenis e a de juniores para a I Divisão com o Hélder [Rocha]. Agora estou à espera de novas propostas.

QFS – E continua a seguir o percurso do Farense?

E – Sempre. Tenho o meu filho mais novo nos juniores do Farense e sempre que posso vou ao S. Luís ver os jogos. Deixei lá muitos amigos e sou sempre muito acarinhado.

QFS – Como classifica a temporada do clube?

E – Está dentro do que eu esperava. E, mesmo sabendo que não há “ses” no futebol, penso que com um pouco mais de sorte o Farense poderia neste momento estar a lutar pela subida. Teve alguns problemas no início da época, depois mudou de treinador e, como se costuma dizer, acabou por perder o comboio. Mas gosto de ver o Farense a jogar, é uma equipa aguerrida, conheço alguns jogadores, joguei com alguns até, o presidente, os dirigentes. É uma equipa com a marca de Faro.

QFS – Acredita num regresso à I Liga num futuro próximo?

E – Quem está à frente do clube vai apostar fortemente nisso. O Farense já tem uma estrutura forte, que ainda tem de melhorar aqui e ali, mas isso é normal num clube que passou pelo que o Farense passou. Os dirigentes sabem o que têm de fazer, e prevejo uma luta forte e engraçada para a próxima época com, ao que tudo indica, três clubes do Algarve a lutar pela subida, se o Olhanense descer e o Portimonense não subir.

QFS – Chegou ao Farense já com 41 anos!

E – São coisas do futebol. Mas quando os jogadores são profissionais e marcam as passagens pelos vários clubes pela positiva, não há idades. Eu estava bem no Campinense nessa época [2007/08], na III Divisão, a fazer um campeonato espectacular, já tinha uns nove golos e era o melhor marcador. Tínhamos uma boa equipa, mas o presidente Barão insistiu muito comigo para ir para o Farense, explicou-me o projecto, que só passava pela subida aos nacionais, e que precisava de mim para marcar golos. Como sou ambicioso, pensei “vamos embora, vamos fazer uma gracinha”!


QFS – E cumpriu a sua parte.

E – É verdade. Não sei quantos golos marquei, mas foram mais de 10 tranquilo [de facto, foram 14]! Sempre a titular. Ainda fui a tempo. Cumpri os objetivos a que me propus, sempre apoiado por aquela claque magnífica. Em todo o lado onde íamos jogar, era mais gente nossa que da casa. E nos distritais, atenção! Para eles, não há chuva, não há sol: vão a toda a parte! Joguei em 10 clubes em Portugal, cada um com a sua história e não vou comparar as dimensões, mas só quem passou pelo Farense, quem jogou lá, é que sabe o que se sente.

QFS – Nunca é tarde para aprender?

E – Nunca. Às vezes os meus colegas mais novos gozavam comigo nos treinos, porque eu estava sempre lá à frente e queria ouvir tudo. Chamavam-me velhote, diziam para sair dali (risos). Mas uma pessoa nunca sabe tudo. Para conseguir alguma coisa na vida, temos de ter esta postura.


“A Taça UEFA foi o ponto mais alto da minha carreira”

QFS – O Farense foi o seu primeiro clube em Portugal, chegou cá em 90/91, mas não chegou a jogar. Que aconteceu?

E – Eu vim do Brasil directo para o Farense, só que na altura havia limite de estrangeiros e o clube já tinha muitos. Ainda joguei um jogo para uma Taça qualquer, e nesse jogo estava lá um director do Olhanense, que me viu e gostou de mim. Quando acabou o jogo, chamou-me e perguntou se eu queria ir para o Olhanense. Aceitei, o que eu queria era jogar.


QFS – Aí já correu bem...

E – Subi de divisão, da II B para a II Liga. Como subi depois no Portimonense, também da II B para a II, e mais tarde outra vez no Olhanense e depois no Farense. No Olhanense, fui um dos melhores marcadores da II B nessa época [19 golos] e o melhor em 2003/04, já com 36 anos [22 golos]. No Vizela também fui uma vez, na II B [33 golos em 31 jogos ], e na II Liga no Portimonense [93/94, 16 golos].



QFS – Surge então o Chaves e a I Liga.

E – Onde fui o quinto melhor marcador do campeonato [14 golos].

QFS – Daí vai para o Sporting, mas não chega a fazer qualquer jogo lá...

E – Foi o presidente Sousa Cintra que me contratou, mas quando cheguei lá vi que havia muitos avançados. Percebi logo que não ia jogar. Entretanto apareceu o interesse do Guimarães, que me queria a mim e ao Capucho para lutar pela qualificação para a Taça UEFA. Aceitei logo – o Sporting acabou por tirar de lá o Pedro Barbosa e o Pedro Martins. No primeiro ano no clube, ganhei logo a Bota de Bronze [terceiro melhor marcador do campeonato, com 15 golos].



QFS – E jogou na Taça UEFA.

E – Sim, foi o ponto mais alto da minha carreira. Jogar no Camp Nou, com o Barcelona, com o Parma, com o Anderlecht. E marquei ao Standard de Liège.



QFS – Pelas pesquisas que fizemos para esta entrevista, o Edinho ainda hoje é muito acarinhado em Guimarães!

E – Sempre que lá vou, as pessoas vêm ter comigo, batem-me no ombro, saúdam-me sempre. Ainda há uns tempos fui ao Norte com a selecção, acompanhar o meu filho, e muita gente me veio cumprimentar. Adoro o Algarve, ainda hoje vivo em Olhão, porque a minha mulher é de lá, mas joguei 8 anos no Norte e também gosto muito de lá estar.


QFS – Depois foi para Inglaterra, passou pela Escócia, regressou ao Algarve e ao Norte e ainda passou pelo Alentejo e pela Madeira! Jogou em todas as divisões do futebol nacional.

E – Sim, conheci todas. Mas na altura era diferente, havia menos divisões. Hoje há muitas séries, o que faz com que os clubes grandes não se interessem tanto pelos campeonatos das divisões mais baixas. Há lá boas equipas e bons jogadores, mas acabam por passar despercebidos por haver tanta equipa e tanta série.

“O apoio do público no S. Luís consegue transformar um jogador”

QFS – Os seus momentos áureos coincidiram também com os momentos áureos do Farense. Foi acompanhando a situação por que o clube foi passando?

E – Seguia sempre, porque o Farense foi o meu primeiro clube em Portugal e sempre acompanhei. Foi por coisas de empresários, loucuras grandes em termos financeiros. Mas o Farense nesses anos tinha uma equipa espectacular, quem lá ia jogar já sabia que era complicado. Comparo o campo aos estádios ingleses: há um grande fanatismo, o público em cima do campo a gritar e a apoiar, isso dá um balanço grande aos jogadores. Se um jogador estiver mais em baixo, recebe aquele apoio e consegue transformar-se. Ninguém passa a ser um Messi ou um Cristiano Ronaldo, claro (risos), mas é um apoio muito importante em termos psicológicos.

QFS – E quando regressou, no início de 2008, acreditou que era possível o clube estar hoje onde está?

E – Acreditei sempre, porque quem joga ali e vive o clube por dentro sabe bem do que é possível acontecer ali. Essa época foi o ponto de viragem.

QFS – Já anteriormente falou do apoio dos adeptos. Como o descreve na época em que jogou no clube, 2007/08?

E – Quando cheguei, jogávamos no Estádio do Algarve. As pessoas iam lá na mesma, mas queríamos todos era jogar no S. Luís, porque sabíamos que teria muito mais gente. Algumas pessoas, como as mais velhas, não podiam ir ao Estádio do Algarve; se fosse dentro da cidade já iam. No último jogo, que foi no Estádio do Algarve, estavam lá 1500, 1700 pessoas. Isto na distrital! Fora, levávamos 700, 800 pessoas. O estádio era todo nosso, fosse onde fosse!

QFS – Guarda, portanto, muito boas recordações da sua passagem pelo Farense.

E – Muito. Não esqueço nunca, como jogador e como treinador.


QFS – É verdade, em 2009/10 passou a ser o treinador principal.

E – Primeiro fui adjunto do Barão, o actual presidente. Depois dessa época acabar [2007/08] ainda queria jogar mais, mas ele convenceu-me, disse que precisava de mim a ajudá-lo como adjunto. Acabei por aceitar: assim acabei em grande, campeão e melhor marcador! Depois, na época seguinte convidou-me para treinador e aceitei.

QFS – Mas a experiência não durou muito tempo...

E – As coisas não estavam a correr como o Barão pretendia. Em oito jogos, consegui seis vitórias, um empate e uma derrota. Estávamos na luta, mas ele achou que era preciso algo mais e concordámos com a minha saída. Mas é futebol, saí sem problemas nenhuns com ninguém.


“O meu filho mais novo já bebe o espírito do clube há três anos”

QFS - Quem foram os melhores jogadores com quem jogou?

E – Joguei com tantos muito bons, internacionais e outros que não o chegaram a ser mas que tinham valor para isso. Prefiro não destacar nenhum em especial.

QFS – E treinadores?

E – A mesma coisa. Tive muitos, a maioria marcou-me pela positiva, mas mesmo os que foram menos bons ensinaram-me alguma coisa, neste caso a não fazer igual.

QFS – O seu filho, Edinho Júnior, também é avançado e está agora nos Estados Unidos. Gostava de o ver um dia com a camisola do Farense?

E – Agora está lá, está contente e a jogar. A equipa dele, o Harrisburg City Islanders, é a equipa B do Philadelphia Union, que está na MLS [a I Liga dos Estados Unidos], por isso ele tem perspectivas de poder jogar lá, o objectivo principal é esse. Ele é profissional, mas claro que gostaria de o ver um dia no Farense. Ia sentir o que é jogar naquele clube. O mais novo já lá está há três anos, já vai bebendo o espírito do clube! (risos)

QFS – Que mensagem deixa aos adeptos do Farense?

E – Que continuem a amar o clube e todos os jogadores que por lá passam. Com essa força que eles transmitem, a curto prazo o Farense vai voltar a estar na I Divisão, porque o merece.

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